domingo, 20 de novembro de 2011

Viver morrendo

 Só queria dormir. Por dois anos ou até por trinta, talvez. Até criar sua voz na minha cabeça. Até decorar os teus passos no chão e descobrir todas as tuas manias que você esconde. Até encontrar um jeito de me tornar imune ao teu sorriso, que agora me ilumina por inteiro. Até não reparar na sua barbinha no queixo. E até não rir com isso. Até conseguir ficar longe de você sem que me sinta completamente vazia. Até não me lembrar mais do seu jeito. Até esquecer que você se dizia sozinho, mesmo quando eu estava por perto. Até dar um jeito de me completar sem a tua presença, mas, ainda assim, viver da tua voz que não conheço e da tua luz que me manteria sempre inteira e intacta. Até te conhecer de verdade. Até aprender que você não sente minha falta como eu sinto a sua. Até dar um jeito de deixar de amar você. É. Vou precisar de trinta anos, mesmo. Até o nosso amor deixar de cinza e virar azul, por mais estranho que isso pareça. Até você deixar de ser anjo, e virar lembrança. Até o seu sorriso não fazer mais efeito e a lágrima não mais doer. Até tudo acabar. Talvez até morrer.

Letícia Loureiro

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