sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Por um triz


Você me conheceu naquela festa em que eu perdi todos os limites. Viu eu me esfregando em outros caras e mesmo assim me emprestou sua blusa quando finalmente sentei ao seu lado pra conversarmos e...dormi em seu ombro. Eu estava de sutiã e você me protegeu do frio que fazia naquela varanda onde fumei um, dois, três baseados. Você não fumou nenhum, ficou em silêncio com seu maço de cigarros assistindo ao espetáculos dos jovens sem pais, sem futuro e sem neurônios. Você me assistiu. E depois do show que dei aquele dia, se eu fosse você, teria devolvido o ingresso e não voltado nunca mais. Mas você deixou sua blusa comigo. Confesso que não lembrava nem meu nome quando te ouvi dizendo, cheio de ternura na voz "pode ficar com ela, Liz.". Eu estava estúpida demais aquele dia.
 E você voltou. Não pela blusa, mas por mim. A gente nem se conhecia e você voltou pra perguntar se eu tava bem. Descobri que gostávamos dos mesmos autores, dos mesmos filmes e da mesma série (aquela que ninguém sabe que existe). Você disse que sabia tocar La Valse d'Amélie no piano e eu te contei que fui bailarina. Eu comentei que estava com dor de cabeça e você me disse que era o rei das dores e dos remédios. Descobrimos quão doentes somos e como podemos suportar qualquer dorzinha enquanto estivermos trocando palavras bonitas. 
 Você cantou pra mim. Tocou piano pra mim. Me prometeu muffins de chocolate, massagem nas costas, remédios (trazidos por seu pombo-correio!), comida japonesa, um montão de livro da biblioteca do seu pai, um banho na sua banheira legal e beijinhos, um monte deles. Disse que eu sou maravilhosa e que não liga para o que os outros pensam de mim desde que eu não ligue também. Foi aí que você me ganhou de vez, caso não saiba disso ainda.
 Nos conhecemos na hora errada e você insistiu em voltar na hora certa. Obrigada.

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