Aqui é cansativo. Entenda bem a frase anterior: aqui, em mim, é cansativo. Observe bem entre as vírgulas, leia com atenção e não se deixe enganar fácil nas minhas palavras cheias de trocadilhos e tropeços.
A casa atual está caindo as pedaços muito frequentemente. Há dias em que a umidade leva consigo quase toda a tinta, deixando marcas na parede que já nem conserto mais. O reboco vai caindo, você precisa ver o quão deprimente isso está ficando! Algumas portas fazem um barulho horrível quando abertas, creio eu que já se desacostumaram com isso. As janelas quase enferrujaram e o trabalho para salvá-las é um pouco árduo. Há sombras por aqui que não encontram o seu corpo correspondente. Que coisa mais louca, você não acha? Parece mal assombrada, você pensará, mas é apenas o meu lar - dentro de mim, não esqueça.
Por fora, colori as paredes, dei tons alegres e até pendurei uma plaquinha receptiva às visitas na porta de entrada. A casa é tão linda e inteira por fora… Então, após você adentrar, descobre que quer fugir, sair por aquela porta e sequer ficar para o café que há muito está esfriando esperando por visita. Você descobre que a casa é nova, mas parece ter sofrido um furacão internamente. A cama, a única que a integra, não vê sonhos há muito tempo. Ela parece que perdeu o jeito de servir às noites de sono. A cama talvez não, eu, quem sabe…
Acho que quero me mudar… Quero uma casa com sacada para respirar fundo pela manhã, uma cozinha espaçosa para os cafés e almoços de domingo, uma cama que conforte choros e abrigue os sonhos, portas grandes e janelas de cor clara, sempre abertas e com cortinas de renda. Quero um quintal para desenhar no chão, aproveitar o sol e sentir os espaços sendo preenchidos pouco a pouco. Quero visitas. Quero, sobretudo, companhia na minha morada.
A casa irá ruir. Antes do desastre, vou-me embora. Já cansei de reformas. Vou construir tudo do zero. Sinto que preciso querer me habitar.
Camila Costa
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