quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A vista do paraíso.





     Quarta-feira nebulosa, a brisa embaçava o vidro da janela de madeira escura. Por trás dela, ele vigiava uma vistosa sombra caminhando pelos cômodos do prédio da frente, apenas um borrão por trás da maldita neblina - mas com certeza o borrão mais perfeito que já havia visto em toda sua vida. Num impulso se abaixa, com medo de ser percebido. Fecha os olhos, a imagina em seu lado, tocando seu rosto novamente, lhe acariciando os lábios, o beijando descontroladamente. Imagens que percorriam pelos seus olhos castanhos - que na verdade não passavam de frutos de sua própria imaginação.

     Não, ele nunca a possuíra. Nunca tocara seus lábios e sua pele pálida e aparentemente macia. E nunca tocaria.

    Ah! Como a vida pode ser tão injusta? Como nunca poder possuir aqueles que realmente amamos e que consideramos nosso avesso e complemento?  Mas ele era digno - sim, ele tentara, e se recordava de tudo, como se tivesse ocorrido há míseros minutos antes, aquele dia de glória passageira e angústia eterna...

E como é que ocorrera mesmo? Ah sim,

    ela estava no banco do colégio, com seus cabelos louros presos num rabo alto, conversando com suas amigas, abafando risadinhas, inventando causos. Ele se aproximou, vermelho, roxo, azul, com uma flor e um bilhete. Não disse nada, apenas os jogou em suas pernas longas, cobertas pela saia do uniforme. Ela olhou sem entender, mais risinhos abafados. "Leia" ele sussurrou, enquanto se afastava apressadamente, mas num raio de distancia até que curto.

 Fria demais para ser tocada. Quente demais para ser deixada.

  Ela abre o bilhete, o lê em voz alta, jogando sua poesia para suas amigas risonhas. Ele se sente invadido, aquilo era seu íntimo, seu infinito.
E ela apena rira. Não respondeu seu bilhete, não repousou a flor em seus cabelos, não o chamou de trás das arvores, não o beijou, apenas riu. Riu com deboche. Deboche nos lábios. Deboche no olhar.

E com os olhos fechados, escondido embaixo do parapeito da janela, ele ainda podia assistir aquele momento de humilhação acoplado em sua mente, que se afixara como uma doença, um mal, como algo que não se esqueceria tão fácil.

Ele chorava. Os olhos dela gozava de suas lágrimas. Humilhação. Desespero. Vazio. Abandono. Morte? Não. Não enquanto ele poderia continuar observando-a da janela. Não enquanto ele poderia tocar seus lábios e acariciar seus cachos macios em pensamento.

E enquanto há pensamento, ainda há esperança.

Redigido por mim: Bárbara Aoki

3 comentários:

  1. é de vasta franqueza que lhe redijo os meus eternos parabéns e outras cousas inapropriadas para possíveis usuários desses sites, adeus.

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  2. Obrigada senhor Kenzo, digo, anônimo... hahahah

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    Respostas
    1. kenzo é tolo coitado, não consegue armazenar tamanha quantidade de palavras e amor dentro de um ser tão pequeno, equívoco seu achar isso. Ass:

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