terça-feira, 24 de julho de 2012

Segundo encontro.



     Eu odeio segundo encontro. Ou melhor, odeio e adoro. O que sinto agora é que esse cara bem que podia não ter ligado. Por que ele me telefonou? Por que ele me chamou para sair? Se ele não tivesse ligado, tudo ia ser normal. Eu ia falar mal dele para as amigas, iríamos repetir aquela bobagem de que os homens não telefonam e tudo ia ficar bem. A Rita iria chegar em casa com um champanhe e a gente ouviria “Ladytron”, aquela música que diz: “Eles só te querem aos 17, aos 21 você não tem mais graça”. Ficaríamos deprimidas porque já temos 30. E a vida ia continuar.
     Mas ele ligou. Deve ter gostado de ficar comigo. E falou assim: “Quero te encontrar de novo porque sábado foi muito bacana”. O mais grave é que eu também achei bacana. Estou com dor de barriga e com enjôo. Não consigo trabalhar. Já tomei uns 300 cafés. Passei o dia inteiro querendo que ele ligasse. Mas, agora que ele ligou, eu fiquei nesse estado ridículo de pânico. Sou louca, eu sei. Era para eu estar feliz. Mas estou nervosa, horrivelmente nervosa. Ele vai tomar um café lá em casa. Que roupa eu boto? Essa coisa de modelo para ficar à toa é sempre complicada. Ou você fica com cara de idiota que se produziu (hello, ninguém passa make para ficar na própria sala) ou largada demais. Como sempre, vou ficar com cara de quem fingiu que não se montou, mas passou horas em frente ao espelho. Vou botar aquela camiseta do Herchcovitch que eu comprei. Só que ninguém fica em casa na terça com roupa da coleção nova. Será que homem percebe isso?
     Eu não quero que ele pense que eu estou muito afins. Porque os homens têm essa mania, eles sempre têm certeza de que a gente está louca por eles. Quando muitas vezes eles é que estão loucos. Saco. Ai, acho que eu vou comprar um brownie pronto no supermercado. Bem casual, como se sempre tivesse na minha casa algo que não fosse requeijão na geladeira. E cerveja... Eu não tomo cerveja. E não vou querer que ele ache que eu comprei só para agradá-lo, claro. Vou fingir que sou uma mulher moderna que sempre tem cerveja para receber os amigos. 
     Ai, passaram cinco minutos. Acho que agora eu fiquei feliz. É que eu pensei em sexo. Delícia. Faz tanto tempo que eu não fico de verdade com ninguém... Sábado foi ok. Mas sexo nunca é tão bom no primeiro encontro. A gente fica travada, o cara fica travado. Mas é claro que é estranho estar pelada na cama com alguém que antes era apenas um conhecido que você só tinha visto de roupa – mais precisamente com modelos ótimos, tipo calça Diesel. A cueca era boa. Calvin Klein. Se ele saiu de cueca Calvin Klein, é porque estava a fim de comer alguém. Será que ele me comeu porque eu fui a primeira que passou?
     Mas se fosse isso ele não teria me ligado, claro. Apesar do que, ele pode ter telefonado porque não tem nenhuma outra pessoa para ligar. Ok. Estou viajando. Não importa. Preciso ficar calma. Agora, quando ele chegar lá em casa, será que eu cumprimento com selinho? Melhor não. Mas tomara que ele me agarre. E espero que ele durma lá em casa, né? Se ele sair no meio da noite, é porque não está a fim. Odeio cara que vai embora assim. É falta de educação. Claro que às vezes eu quero que os caras sumam. Mas, como sou educada, fico quieta e durmo com o idiota. 
     Bem que ele podia ser fofo igual ao Marcelo, que no dia do nosso segundo encontro chegou lá em casa com uma flor roubada (é cafona, mas eu gostei) e já foi mostrando que tinha levado a roupa para o dia seguinte. Mas deu tudo completamente errado com o Marcelo. Isso significa que segundo encontro não quer dizer quase nada. Pode ser que a gente só saia essas vezes e pronto. Mas também pode ser que a gente se apegue e tenha 500 encontros. Não posso pensar nisso. Eu tenho medo! E preciso ir embora do trabalho (não fiz porra nenhuma), e passar no super, arrumar o modelo e surtar. Ai, que ótimo!


Nina Lemos.


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