segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A saleta e o garoto.


     O lugar era apertado, quente e intimidador. Pouco notava-se os móveis claramente velhos demais para pertencerem a esse século, isto porque as luzes da tal saleta faziam mais sombra do que davam claridade.
     O menino, sentado ao lado da menina -que era nova por ali-, procurava mantê-la segura e confortável. Ele pouco entendia de garotas e suas necessidades absurdas causadas pelo excesso de hormônios, porém acreditava que de alguma maneira tudo ficaria bem no final.
     Ele era tão ótimo com palavras, quanto era péssimo com diálogos. Pensava... Então pensava em falar... E logo pensava quão ridículo aquilo soaria depois de pensar por uma segunda vez. Por isso nunca falava. Quando abria a boca era para repetir frases prontas decoradas na frente de um espelho outrora abandonado.
     Mal sabia a menina que o garoto sem palavras era poeta de uma vida ordinária, e que quando tocava a caneta, deixava que seus dedos conduzissem uma dança inacabável formando belíssimas estrofes de versos que Edgar Allan Poe teria inveja.
     A parte boa da história é que a garota não ligava do menino não ter palavras (sempre achara a timidez um charme). O menino, contente com o final feliz, esperava apenas que um dia ela encontrasse seu blog que de rima em rima contava a misteriosa história de um amor que deu certo: um amor sem palavras, numa saleta escura, num sofá que quebrava o silêncio com seus ruídos acanhados... um amor tímido, que tinha muito o que contar.

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