segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Era cheia de medos, receios.


Era um texto comprido demais, lotado de borrões e frases desconexas, que faziam sentido num só contexto, que era ela. E tudo que ansiava era ter alguém que a entendesse, mas nem ela mesma era capaz de tal proeza. Se debatia com seus pensamentos, suas vontades, seus temores bobos, agarrava-se a esperança de um dia poder respirar aliviada, sem tanto peso, sem a carga pesada e enfadonha que era aquela eterna dúvida. Queria se encontrar em alguém, e de tão perdida e desajustada, esquecera-se que isso nunca é bom. Porque sempre haverá o risco de ser deixada para trás, e tornar a se perder. Ela não sabia, não compreendia, mas tinha que se encontrar nela mesma. Tinha que procurar no fundo dos olhos o brilho perdido, e na lembrança do riso a espontaneidade. Ainda estava lá, fraco e desgastado, enferrujado pela falta de uso, mas ainda assim lá.Tinha que agarrar-se nela mesma, no seu amor próprio há muito perdido, agarrar-se com unhas e dentes. Ou com a tranquilidade de uma tarde de sábado, que aos poucos vai passando, e cedendo lugar a noite. Ela tinha que se encontrar, aos poucos ou num só impacto, no estranhamento do primeiro instante ou num jorro de auto-reconhecimento. O problema era fazê-la entender isso. Não havia ninguém disposto a explicar, e ela não conseguia, de tão perturbada, deduzir sozinha. Um caso com solução, ao menos dessa vez não iria para o arquivo morto. Mas corria o risco de eternizar-se e perder-se no tempo, fora de órbita pra sempre. Ou seja lá quanto tempo casos assim durem.

Juliana Nery.

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