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quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Carta para uma Thais adulta.


14 de dezembro de 2013

Querida Thais do futuro,

Como você está?

Hoje é seu aniversário! Quantos verões você já comemorou desde o dia em que eu escrevi isto pela primeira vez? Já conseguiu conquistar todas as metas da sua vida? Você ainda lembra para quantas pessoas prometeu sua amizade eterna? Você pelo menos ainda mantém um mínimo de contato com eles? Porque eles eram seus melhores amigos e você até chorou quando foi embora. Você lembra quem são eles, e lembra dos seus sobrenomes e suas personalidades? Você conheceu novas pessoas? Abandonou as outras? Você sabe o quanto no fundo eu queria que fosse pra sempre. Por falar nisso, continua desacreditando no pra sempre? Você descobriu se aqueles seus "amigos" que saíram da sua vida do nada eram realmente seus amigos? Quebrou a cara tantas vezes como eu imagino?

Ah, espero tanto que você tenha conseguido comprar a casa dos sonhos da sua mãe. Como ela está, aliás? Feliz? Ela finalmente está aproveitando tudo que ela sempre mereceu? E seu pai? Ele conseguiu um bom emprego para mostrar como ele é excelente em tudo? Você vê ele sempre agora? Não me diga que o vê uma vez em anos... Você já passou muito tempo longe dele! E seus irmãos? Eles estão bem sucedidos como espero que estejam? Como eles são grandes, crescidos, adultos? Continuam os mesmos? Oh, Deus, espero que vocês não tenham brigado e ficado distantes sem saber notícias uns dos outros. Você continua orgulhosa dos irmãos que tem?

E como vai sua saúde? Você tem cuidado da sua alergia? O alzheimer já te atacou? Você continua esquecida e avoada como sempre foi? Conseguiu arranjar o trabalho dos seus sonhos ou ao menos descobriu qual é o trabalho dos seus sonhos? Não venha me dizer que está atrás de um balcão de escritório desperdiçando todo o talento que tinha. Também não me diga que ficou presa na sua cidade natal sem fazer o tur mundial como sempre desejou.

E seus amores? Continua se apaixonando pelos caras errados ou já encontrou sua alma gêmea? Você não anda tentando destruir seus próprios relacionamentos como costumava fazer, certo? Diga-me que finalmente encontrou o rapaz dos seus sonhos! Já casou? Sua festa de casamento foi a sós com seu noivo em algum lugar do planeta, como você sempre quis? Ele é um cara bacana? Ou você simplesmente virou uma senhora que cuida dos idosos no asilo da sua cidade? Espero pelo menos que esteja fazendo algum bem à humanidade.

Como está a humanidade? Continuam destruindo o mundo? Ainda existem árvores? Por favor, diga-me que sim! Não quero ver meus filhos e netos morrendo porque vocês destruíram o planeta. Você já tem filhos? Quantos e quais seus nomes? Não vejo a hora de conhecê-los, fico ansiosa só de imaginar a possibilidade. Você vai educá-los como foi educada, certo?

Não quero ouvir que seu maior sonho é voltar no tempo, ou que sua vida foi desperdiçada, ou que não vê sentido em viver. Enfim, eu só quero que você esteja muito feliz, independente de qualquer pergunta não respondida. Que você tenha feito as melhores escolhas que poderia, e que, caso você não tenha feito nada disso... FAÇA! Ainda dá tempo, acredite.

Com carinho,

Uma Thais adolescente.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

No nosso contrato dizia: Não é amor.


Aí você me ligou às 3 da madrugada com uma voz de choro (tentando me fazer acreditar que era mais raiva que tristeza), e me contou todas as suas desventuras com uma tal de Mariana. Aquilo não era amor. Tirou sua blusa e jogou em cima de mim no dia mais frio do ano, dizendo que não, não estava com frio, podia ficar, não se preocupe, isso não é amor.

Me levou no cinema e combinamos que éramos só amigos. Chegamos de mãos dadas e eu coloquei minha cabeça no seu ombro quando cansei de olhar pra tela. Segundo o contrato, aquilo não era amor. Viajei com a faculdade e senti tua falta do começo ao final dos dias, imaginando como seria muito mais legal poder compartilhar essa experiência contigo pessoalmente do que por fotos. Estava longe de ser amor.

Você esqueceu um papel no meu carro, eu quis te devolver, você disse que não precisava, eu levei mesmo assim, não porque eu só queria te ver, mas porque não gosto de ficar com nada que não é meu (exceto você). Nem por isso foi amor.

Ouvi as últimas músicas que você mandou e prestei atenção em cada frase para ver se alguma delas falava sobre mim. Não era amor. Fizemos amor no meio da rua, mas só chamo de amor pra eufemizar o sexo, porque o contrato dizia que de amor não há nada.

Você me contou que estava se apaixonando pela tal de Mariana e que só pensava nela, e que ela era perfeita, e que talvez fosse amor. Eu senti medo de te perder, de não termos mais mãos dadas, nem cafuné, nem madrugadas de companhia (sem conchinha). E esse sentimento não era amor.

Quer saber? Eu só não te amei pra te ter por perto. Engoli o choro e botei um sorriso na cara, porque nunca foi amor. Enfiei na cabeça que era melhor estar contigo e tu estar com mais trinta, do que estar com qualquer outro e nunca mais nem poder brigar contigo. O que não entrava na cabeça era a possibilidade de te desconhecer. O nosso contrato dizia que não era amor, por isso nunca foi.

sábado, 4 de julho de 2015

Se minha vida fosse um livro.



Se minha vida fosse um livro, você seria a parte em que tudo começa a ficar bom. Sabe quando de repente não se consegue mais ler só uma página? E todo final de capítulo te implora pra ler o próximo? E seus olhos começam a jorrar lágrimas porque estão lutando entre o sono ou o ápice da história? É bem aí que você está.

De umas páginas pra cá tu tem se tornado protagonista da minha trama. Ainda não está claro sua exata importância na minha biografia. Se eu pudesse virar algumas páginas eu teria a resposta de tudo. Só que aposto que nada teria sentido, de tantas pontas soltas. E também não quero pular todas as coisas boas (e as ruins) que nós iremos passar. O bom é ler letra por letra, linha por linha. Sentir tudo bem sentido.

Se minha vida fosse um livro e eu tivesse leitores, você estaria encantando todos eles. Neste momento mesmo, alguns deveriam estar implorando pra aparecer alguém como você em suas vidas. Pra eles você é o cara que só existe nos livros e isso me enche o peito, porque eu te conheço em carne viva. Mas não sou hipócrita, talvez você também seja protagonista de algumas outras histórias. Você não é o tipo de personagem que passa despercebido quando esbarra em outras narrativas.

Tenho um pouco de medo, confesso. Você pode achar com facilidade outros romances muito mais interessantes do que a nossa improvável história de... O que quer que seja. Somos duas pessoas difíceis, e eu, particularmente, sou terrível. O escritor não ligou quando me criou com milhões de defeitos, e deve ter pensado que seria fácil digitar um final feliz pra mim. Eu sei. Nem todos os finais são felizes. Torço mais pelo seu final feliz do que pelo meu próprio. Porque eu já aguentei vários outros finais catastróficos, mas não aguentaria te ver nessa posição.

Sim, o seu final porque existe sempre dois lados da moeda. E se sua vida também fosse um livro, bem, eu estaria por lá. Tentando protagonizar. Ser tão importante na sua história como você é na minha. E mesmo seu roteiro tendo muito mais conteúdo, gostaria que ambas se cruzassem por um longo tempo. Queria continuar por aí até um dia conseguir te recompensar pelas melhores páginas da minha vida, que, coincidência ou não, só começaram a acontecer depois da primeira vez que seu nome apareceu num capítulo totalmente destruído.

domingo, 28 de junho de 2015

A única delas é você.

Foto: Lukasz

Já conheci milhões de mulheres, e apaixonei-me por um bocado delas. Cada uma desfrutava de uma peculiaridade. A maioria ofereceu-me pelo menos uma boa noite de sexo. No entanto nenhuma delas era como você. Nem a mais exótica, nem a mais conservada. Juro, não era porque elas foram fáceis de conquistar, nem porque elas abriram as pernas no primeiro encontro e você não. Porque você também fez isso. Só que por algum motivo era você que sempre esteve lá quando meu desejo era pular da sacada do meu prédio. Não foi nenhuma delas que chegou no meu coração e vasculhou todas as minhas dores. Tu que me colocou nos eixos. Até quando eu corria atrás de um desses ordinários pedaços de corpo você me dizia que "não se brinca com os sentimentos de ninguém". Mas nunca ligou se eu brincasse com os seus.

E eu nunca brinquei.

Eu odiava a sensação de necessitar do seu abraço. Costumava carecer de algo que aparentemente seria muito mais complicado conseguir. E, droga, tudo o que eu queria era ouvir a sua respiração acelerada logo depois de uma corrida no parque. Tocar sua mão fingindo que sei fazer a melhor massagem de mãos do universo. Enxugar suas lágrimas na minha camiseta só pra poder sentir mais de perto o seu cheiro. Eu queria decorar todos os seus detalhes... Sua falha na sobrancelha, suas infinitas pintinhas escondidas no seu próprio rosto, os espasmos da sua mão quando você dormia, e tantas outras bobagens que eu só procurava em você.

Nenhuma outra mulher mereceu as horas que eu passei falando de ti para os meus amigos que não estavam nem um pouco interessados. Foi você quem me fez ficar acordado nas infinitas madrugadas imaginando como a soma eu + você no meu colchão surrado resultaria numa noite bem mais aconchegante do que com elas. Porque contigo eu digo "fica mais um pouco" e pra elas eu despejo "tenho que ir". Você me chama pra um concerto e elas me convidam prum motel no meio da estrada. Elas me pedem um oral, e você, um abraço. Elas somem por um mês inteiro e você aparece todas as manhãs. Elas reclamam de como fulana estava mais bonita que ciclana e você me conta de todos os seus sonhos impossíveis. Meu desejo é sempre mandar elas calarem a boca, e fazer os seus sonhos impossíveis tornarem-se nossos sonhos totalmente possíveis.

Você é a única que me entende quando digo que multidões me sufocam, que músicas são como tranquilizantes, e que liberdade é necessidade. As outras me arrastam para baladas lotadas de sons e pessoas que estão lá só por mais uma noite abarrotada de vazio. Você é a única que me odiará por todos os erros que eu cometer, e se odiará por não conseguir fazer de mim um cara melhor, e mesmo assim sempre voltará, porque sua preocupação extrapola qualquer outro sentimento - as outras sempre desistiram nos meus primeiros tropeços. Você é a única por quem eu trocaria uma noite de sexo por um dia de conversa. Que deixa os problemas de lado pra se aventurar comigo pelo mundo. Que me aceita quando o resto do mundo me vira as costas.

"As outras são só as outras."

Você é a única que sempre estará comigo e que nunca será minha.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Estar é amar.


"Eu sou gay", você sussurrou como se aquilo fosse o maior pecado que tivera cometido na vida. E o que eu ouvi foi "obrigado por ser a única pessoa com quem eu posso compartilhar o que venho guardando por tanto tempo".

Eu fora a primeira a saber, e eu chorei por isso. Não é sempre que sou a primeira escolha. Quase esqueci do seu sofrimento de tanta felicidade em saber que era em mim que você confiava. Mas aquelas palavras que saíram da sua boca despedaçaram-me. Estavam cheias de medo de serem rechaçadas, tinham tanto medo do mundo que quase não saíram. Foram expelidas com lágrimas que fizeram o meu coração apertar.

Não vou mentir, tive medo por você.

Medo do que as pessoas que não entendem a normalidade disso poderiam fazer. Tive vergonha de todas as vezes que fizeram piada de homossexuais na sua frente. Bem como doeu saber que você guardou isso durante a vida toda.

Meu primeiro sentimento foi de querer te proteger, mesmo você sendo muito maior que eu, você pareceu pequeno naquela hora.

Indefeso.

Eu cheguei até a entender a madrasta da Rapunzel quando ela trancou-a numa torre, porque foi esse o plano desenvolvido na minha mente: construir uma barreira protetora pra nada te machucar.

Que mundo é esse em que vivemos sem poder amar quem realmente desejamos?

Eu não sei. Ainda assim quero te lembrar que você é livre pra amar quem quiser! Se precisar, estarei sempre por aqui (até quando você achar que não estou mais). Porque afinal, estar é amar.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Te preencha.


Queria um dia conseguir te saciar. Preencher todos os buracos negros que te consomem por dentro. Você consegue imaginar? Ser preenchido invés de consumido? Ver você transbordando seria, de longe, uma das maiores felicidades da minha vida. Entristece saber que eu não sou a pessoa que te satisfaz, que acaba com teus medos, que te revira do avesso e que te desafoga desse oceano de lágrimas encarceradas no seu peito. E mesmo assim quero um dia poder ouvir da sua boca que "não há mais nesse corpo aquele monstro que um dia só crescia".

Eu espero, honestamente, que algo te preencha. Algo porque talvez não seja uma pessoa. Quem sabe uma conquista, um lugar, ou até mesmo um sentimento? Torço desesperadamente para poder ver o seu sorriso quando isso acontecer. Torço para ver isso mesmo que de longe, mesmo que eu não esteja mais tão presente na sua vida. Mesmo que você tenha se mudado pro outro lado do mundo e fale qualquer outra língua desconhecida. Eu preciso ver o seu sorriso de satisfação.

Por ora, gostaria que soubesse que, se quiser, posso ser a tua escora. Você pode abrir seu coração e me deixar entrar, e eu nem preciso ir até as partes mais profundas se isso não for conveniente, posso ficar nas beiradas até que você se sinta confortável. Sei que não sou sua família, mas queria muito poder estar ali nos seus piores dias, quando nada no mundo inteiro te fizer bem. Eu só queria estar ali. Já fico feliz quando conheço seus sentimentos, mesmo que eu não entenda como realmente é. Por ora, quero tentar ser um pedaço daquilo te preencherá um dia.

terça-feira, 9 de junho de 2015

The beginning.


Dizem que escrever é como lavar a alma, esvaziar os sentimentos. Eu duvido. Há tanta fúria, tanto medo, tantos tantos dentro deste que escreve, que talvez escrever seja apenas mais uma das morfinas que se encontra por aí. Nem sempre foi assim, houve paz uma vez nessa mente perturbada, quando a maior preocupação que se tinha, era achar pedaços de madeira para fazer bastões de bets, e roubar tijolos das construções para fazer as casinhas. Foi nesse tempo, que a nébula começou, uma série de escolhas erradas, o tal do efeito cascata, me tragou pra dentro do lugar que eu tento sair, todos os dias. Pequenos detalhes, que não receberam a devida atenção, transformaram-se em monstros, que se alimentam dentro da minha cabeça, como vermes dentro de um cadáver em putrefação. Chamam isso de ideias,  eu chamo de parasitas. Uma vez que uma ideia entra na sua cabeça, não há como tira-la de lá, não há como arrancar um pensamento como se arranca um tumor, não há como “desver” aquilo que foi visto, ou suprimir aquilo que se sente.

Texto de Rafael Szpaki.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Não chora sozinha.

Foto: Eylul Aslan

Ei, pequena, já faz uns bons dias que não te vejo mais sorrir como antes. Sua feição de tristeza é realmente encantadora pra falar a verdade, mas honestamente, eu prefiro muito mais quando você transborda alegria. Sei que não sou o melhor amigo do mundo, nem faço piadas tão legais quanto as suas (que nem são piadas, mas me fazem rir), só que eu sei ouvir. Ouviria o dia inteiro suas lamentações sobre a vida. Se você não quisesse, eu não daria um pitaco sequer. Até porque não tenho lá muitos bons conselhos pra dar - você que é a parte vivída da nossa amizade.

Me dei conta uns dias atrás que tu é um  mistério muito grande. Tem horas que eu te olho e tenho vontade te rasgar inteira, camada por camada, pra descobrir tudo o que você sente. Como se seus sentimentos fossem vazar do seu corpo e pairar pelo ar. Seria um jeito "fácil" de te conhecer melhor. 

Talvez você tenha algum tipo de senha que se eu acertar conseguirei acessar seus dados mais profundos - tudo isso soa um pouco macabro, meio perseguidor, mas só queria que seu sofrimento acabasse, sabe? Não tem como viver sofrendo sozinha, pequena. Entenda que seus amigos estão aí pra isso. Juro que se você vier, eu te ouvirei. E colherei todas as suas lágrimas no meu moletom preferido. E te darei o colo que quem quer que tenha te machucado não te deu. Você só precisa vir. Se não quiser, nem precisa desabafar... só ficar. Tudo o que eu quero é ver o seu sorriso despreocupado novamente.

Pequena, divide seu sofrimento comigo e te asseguro que vai doer bem menos.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Você é meu cigarro.


Te descobri num dia comum em um lugar onde eu não costumava frequentar. Junto contigo tinham outros milhares expostos, alguns mais atraentes e alguns nem tanto. Te escolhi por algum critério que não me recordo agora. Talvez pelo design diferente... não sei. Não foi nenhum amigo meu que te apresentou, apesar de alguns deles te conhecerem bem, a iniciativa foi minha em querer experimentar. 

Na embalagem vinha escrito logo de cara que você era prejudicial. E eu já sabia disso antes mesmo de te conhecer. É o que a mídia nos faz acreditar - são todos iguais. Mas são erroneamente iguais: é evidente que cada um tem suas particularidades, senão não haveria preferência.

Era óbvio que eu não era a primeira usuária nem seria a última. Tive curiosidade de ir atrás de cada um que te fumou para saber qual era a sensação, o que tu lhes trouxe de bom e que partes da vida deles tu arruinou. Só que eu não fazia ideia de como obter esse tipo de informação. A princípio tudo o que eu fazia era observar. Li o rótulo tantas vezes que cheguei a decorar cada informação que a embalagem me pudesse oferecer. Eu já não tinha certeza do que eu queria.

O que custava tentar? Nem o vício, nem o estrago viriam tão rápidos assim. Talvez eu nem sentisse a diferença. Por isso experimentei. A primeira tragada foi um pouco asfixiante, a sensação era de que aquilo não deveria estar no meu corpo. Entretanto eu estava tão animada com a ideia de poder te conhecer melhor que me vi lutando para fumar o cigarro inteiro.

Logo, a sensação de te tragar passou a ser tranquilizadora. Acabei por decidir que valia a pena estar contigo independente dos estragos que você faria num futuro próximo ou não. Porque eu me sentia satisfeita. Saciada. Relaxada. Eu podia te fumar o dia inteiro. Talvez isso me matasse mais rápido, "mas e daí?" era só o que eu conseguia pensar.

Mas, agora, quando eu realmente paro pra analisar quão mal você pode me fazer, te escondo porque é mais fácil quando não te tenho em mãos. O problema é que não tem como esconder pra sempre, uma hora você aparece (especialmente  quando estou procurando coisas que não são você). Eu tento ignorar, mas é tão ruim te ver e não te tragar. É mais forte que eu. Aí acontecem as recaídas. Arrisco dizer até que estou viciada. E que droga de vício.

Quando me perguntam porque eu fumo... quando me perguntam porque eu fumo você, respondo "porque gosto". E essa é a resposta mais verdadeira de qualquer uma que eu pudesse pensar. Dizem que viciados nunca se curam em cem por cento. Por isso, mesmo que eu pare de te fumar, ainda vai existir uma parte de mim que implorará para que você apareça de repente e volte me estragar.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Antonina.


Você poderia muito bem ser daqueles tipos de amores de verão. Do tipo que eu mesma vivenciei um tempo atrás. Foi um romance de final de semana - literalmente - que me fez sentir livre. Gostaria que o que eu sinto por você fosse assim: passageiro e eterno. O que é um conflito de informações que faz todo o sentido agora.

Sobre o meu romance do final de semana... Eu sabia que nunca mais o veria, por isso podia ser eu mesma sem ter receio de que ele porventura, deixasse de me gostar um dia. Não existiu o medo de perder, existiu o fato de que ele nunca seria meu. E isso não era nada demais, porque eu também nunca seria dele. Não existiu a preocupação de quantas vadias ele pegou no final de semana que não passou comigo. Existiu ele e eu, que éramos o sol dentro de um sistema, que é todo o resto do mundo, inclusive você.

O foco todo foi no momento em que estávamos vivendo. O resto não importava. Você, lindo, não teve importância quando eu estava com ele. A lua teve importância. Ela foi o complemento do barco de um cara outrora desconhecido. O beijo do moço tinha gosto de cigarro misturado com água do mar. E eu não liguei, porque aquele seria o primeiro e último beijo que daríamos. Não vou negar, não chegou perto do seu. E isso, pensando bem, me irrita um pouco, porque tudo é muito bom com você, até quando não é tão bom assim.

Por que você não é um romance de final de semana? Uma vez me falaram de uma teoria de que se você gostar de uma pessoa por mais de 4 meses, deixa de ser apenas uma paixão - torna-se amor. E eu não quero te amar. Porque vai doer. Quero que você seja um romance de verão. O problema é que o meu coração não entende isso. Passei horas explicando, juro que tentei, mas não dá. Algo em você bloqueia a parte sensata na luta interminável entre coração e razão. E aí eu não consigo te colocar no patamar de romance de verão. Você acaba sendo meu amor não correspondido. E, argh, te odeio! Me odeio! Só porque no final é sempre sobre você, não sobre ele ou sobre qualquer outro.

domingo, 10 de maio de 2015

O churrasco.

Desenho a carvão, por mim.

O churrasco com a família não era algo tão frequente. Era apenas em datas importantes que nos encontrávamos, abraçávamos, e contávamos as típicas histórias que toda família conta. Histórias mirabolantes, lições de moral, dietas, piadas esquisitas, comida de montão e "tá namorando?" nunca faltavam por ali. 

Um tempo passou e umas luzes mais fortes começaram a musicalizar o ambiente. Era o sol que parecia estar muito mais próximo do que o natural, clareando todo o entorno, trazendo uma sensação, a princípio, de paz. Estava tudo deslumbrante até eu lembrar do filme "Procura-se um amigo para o fim do mundo" onde no final acontece essa mesma coisa, mas não tem nada de bacana nisso, porque como o próprio nome do filme diz: é o fim do mundo. Se acontecesse como no filme, tudo ficaria branco e... fim.

E então tudo ficou realmente branco. 

A pessoa mais perto de mim naquela hora era a minha mãe. A minha mãe. Diferente do filme, eu não estava com o cara da minha vida. Eu estava com a minha mãe. E abracei-a. Abracei-a e de repente tudo aquilo pareceu fazer sentido. Eu não queria estar com mais ninguém senão com ela. Porque foi ela que me protegeu e me carregou antes mesmo de eu fazer ideia da minha existência. Foi ela que passou noites acordada porque eu não deixava-a dormir. Ela que deitou comigo até eu cair no sono depois de um pesadelo que me fez pular da cama. Ela que se preocupou comigo por qualquer sintoma de resfriado que eu tive. Foi ela quem chorou durante todas as vezes que eu vim embora. E foi ela que esteve do meu lado durante todas as minhas conquistas e principalmente nas minhas derrotas. Foi sempre ela.

"Mãe, eu te amo. Você é a melhor mãe do mundo inteiro". Não foi a frase mais original, mas foi o que eu consegui pensar que resumisse... tudo. Porque essas seriam as últimas palavras que eu gostaria de dizer antes do mundo acabar.

Um minuto inteiro se passou. Talvez nós já estivéssemos mortas. 

"Ei, não é o fim do mundo. Já podem parar de se abraçar", alguém gritou. 

E não era. Era só o começo de uma vida que eu daria muito mais valor pra pessoa que mais me amou.


Mãe, esse texto saiu de um sonho que eu tive umas semanas atrás. Hoje, ele deixa de ser um segredo pelo simples fato de que eu precisava compartilhar a felicidade de te ter como mãe. Talvez com ele eu conseguisse expressar o mínimo da minha gratidão por tudo que você fez por mim. Obrigada.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Não foi sobre amor.



Eu nunca te amei. Mas hoje senti sua falta. 

Lembra do dia que você fez a melhor baliza do mundo, no meio de dois carros que estavam muito mais juntos que o normal? Senti falta disso. Da sua habilidade com carros. Das fininhas que tirava ao passar perto e rápido demais de qualquer outra coisa. Senti falta do frio na barriga que isso me causava (misturado com a certeza de que eu estaria a salvo nas suas mãos). Quantas foram as vezes que andei contigo e senti-me sua mulher... Sua companheira! Você tinha um ar de grandeza quando dirigia. Parecia um homem revestindo o corpo de um menino.

Senti falta do nosso sexo. Eu adorava nosso sexo! Provavelmente um dos topos da lista de melhores na cama (não que eu tenha uma lista). Mas você se importava. Com você, mas principalmente comigo. Eu amava só deitar contigo depois. Você geralmente falava demais e por vezes eu não prestei atenção no que saía da sua boca... O que me chamava a atenção eram outros detalhes, como seu sorriso bobo quando contava uma piada que eu fingia ter achado graça, ou sua barba por fazer que te fazia cócegas quando eu o acariciava.

Sinto saudade de estar do seu lado. De me envergonhar quando você entrava na sala onde eu trabalho. De pedir pra você ficar só mais um pouquinho e conseguir fazer você ficar até a madrugada. Saudade de ser idiota e não me sentir inferior por isso, porque você sempre foi meu companheiro de idiotice. Sinto falta até de você soltando pum e dando risada, porque só soltamos pum na frente de quem realmente gostamos.

Eu nunca te amei, mas o tanto que você me fez bem foi suficiente pra eu nunca te esquecer. E, de verdade, eu nunca esquecerei. Você será sempre uma parte da minha vida de eternas boas lembranças. Tudo com você era bom demais pra ter sido amor. Talvez fosse algo perto disso. O que nós tínhamos era leve demais, livre demais, saudável demais. Você preenchia o buraco do amor com outras coisas que só você tinha. Qual era o seu segredo? Nunca descobri. Talvez... um dia se tornasse amor. Sabe aquele tipo de amor que é construído com o decorrer dos anos e que só cresce, nunca diminui? Acho que é isso. Não foi sobre amor. Mas poderia ter sido.

domingo, 19 de abril de 2015

O que você tem no seu coração?


Tem uma vitrola no meu coração. Ela é responsável pela trilha sonora da minha vida. 

"De onde vem o jeito tão sem defeito que esse rapaz consegue fingir? Olha esse sorriso tão indeciso", tocou, logo que viu o cara por quem, um dia depois, me apaixonei. O primeiro LP repetiu-se nas três ou quatro semanas que o moço cegou-me. Foram 12 canções cheias de "It's just a spark, but it's enough to keep me going" com uma pitada de "O meu desespero é que quando acaba: você fica inteiro e eu fico o pó".

Não ouvi. Me joguei nessa aventura descabida.

Criou mofo na vitrola.

Ela parou de tocar, lentamente substituída pelas canções que o cara dizia serem melhores do que as minhas. Fiquei um tempão ouvindo o que a vitrola dele tinha a dizer. E dizia juras de amor "So if you're lonely, you know I'm here waiting for you. I'm just a crosshair". Ele nunca obrigou-me a ouvir, talvez por isso aquietou-se (a minha vitrola). Não deu um pio - tinha vergonha.

Até que o rapaz me machucou, quis, inconscientemente, que a playlist inteira dele tocasse dentro de mim. E algo no meu coração não queria que coubessem outros LPs ou um single que fosse ali. O medo do que poderia acontecer era a razão da rejeição - por isso doía. "Hate to say I told you so. Alright. Come on. I do Believe I told you so" - minha vitrola voltou a tocar, receosa. E eu sabia, ouvira seus avisos por quatro semanas.

Ela cutucou meu coração, questionando "Now, I need to know is this real love or is it just madness" - quis a verdade.

Hesitei. Apenas loucura, sussurrei.

Decidi esquecer o rapaz. A vitrola voltou a tocar. Tocou músicas que faziam meu corpo inteiro vibrar. A dor foi sumindo até que restou apenas saudade. "I got out, I got out, I'm alive and I'm here to stay. Hey, hey it's fine, I left it behind"


Trechos de:
DE ONDE VEM A CALMA - Los Hermanos
LAST HOPE - Paramore
UM SÓ - Clarice Falcão 
TAKE ME OUT - Franz Ferdinand
HATE TO SAY I TOLD YOU SO - The Hives
MADNESS - Muse 
TWO FINGERS - Jake Bugg

sábado, 14 de dezembro de 2013

Carta para uma Thais adulta.


14 de dezembro de 2013

Querida Thais do futuro,

Como você está?

Hoje é seu aniversário! Quantos verões você já comemorou desde o dia em que eu escrevi isto pela primeira vez? Já conseguiu conquistar todas as metas da sua vida? Você ainda lembra para quantas pessoas prometeu sua amizade eterna? Você pelo menos ainda mantém um mínimo de contato com eles? Porque eles eram seus melhores amigos e você até chorou quando foi embora. Você lembra quem são eles, e lembra dos seus sobrenomes e suas personalidades? Você conheceu novas pessoas? Abandonou as outras? Você sabe o quanto no fundo eu queria que fosse pra sempre. Por falar nisso, continua desacreditando no pra sempre? Você descobriu se aqueles seus "amigos" que saíram da sua vida do nada eram realmente seus amigos? Quebrou a cara tantas vezes como eu imagino?

Ah, espero tanto que você tenha conseguido comprar a casa dos sonhos da sua mãe. Como ela está, aliás? Feliz? Ela finalmente está aproveitando tudo que ela sempre mereceu? E seu pai? Ele conseguiu um bom emprego para mostrar como ele é excelente em tudo? Você vê ele sempre agora? Não me diga que o vê uma vez em anos... Você já passou muito tempo longe dele! E seus irmãos? Eles estão bem sucedidos como espero que estejam? Como eles são grandes, crescidos, adultos? Continuam os mesmos? Oh, Deus, espero que vocês não tenham brigado e ficado distantes sem saber notícias uns dos outros. Você continua orgulhosa dos irmãos que tem?

E como vai sua saúde? Você tem cuidado da sua alergia? O alzheimer já te atacou? Você continua esquecida e avoada como sempre foi? Conseguiu arranjar o trabalho dos seus sonhos ou ao menos descobriu qual é o trabalho dos seus sonhos? Não venha me dizer que está atrás de um balcão de escritório desperdiçando todo o talento que tinha. Também não me diga que ficou presa na sua cidade natal sem fazer o tur mundial como sempre desejou.

E seus amores? Continua se apaixonando pelos caras errados ou já encontrou sua alma gêmea? Você não anda tentando destruir seus próprios relacionamentos como costumava fazer, certo? Diga-me que finalmente encontrou o rapaz dos seus sonhos! Já casou? Sua festa de casamento foi a sós com seu noivo em algum lugar do planeta, como você sempre quis? Ele é um cara bacana? Ou você simplesmente virou uma senhora que cuida dos idosos no asilo da sua cidade? Espero pelo menos que esteja fazendo algum bem à humanidade.

Como está a humanidade? Continuam destruindo o mundo? Ainda existem árvores? Por favor, diga-me que sim! Não quero ver meus filhos e netos morrendo porque vocês destruíram o planeta. Você já tem filhos? Quantos e quais seus nomes? Não vejo a hora de conhecê-los, fico ansiosa só de imaginar a possibilidade. Você vai educá-los como foi educada, certo?

Não quero ouvir que seu maior sonho é voltar no tempo, ou que sua vida foi desperdiçada, ou que não vê sentido em viver. Enfim, eu só quero que você esteja muito feliz, independente de qualquer pergunta não respondida. Que você tenha feito as melhores escolhas que poderia, e que, caso você não tenha feito nada disso... FAÇA! Ainda dá tempo, acredite.

Com carinho,

Uma Thais adolescente.

Ps: Este texto também está programado para ser publicado daqui exatos 10 anos, eu não ia escolher data, mas achei melhor já deixar programado, já que provavelmente eu vou esquecer que esse texto existe. Espero que este blog exista até lá! Se não existir, eu dou um jeito de ler esse texto novamente. Vocês ainda verão a resposta para essa carta (espero)!

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A gente só dá valor quando perde.


Seu último adeus foi tão ordinário que eu nunca perceberia a gravidade da situação. Foi tão repentinamente e sem explicação que não pensei em hipótese alguma que seria o seu último adeus. Foi um "tchau" lotado de mistérios e remorsos que na hora passaram despercebidos. No entanto você sempre fora assim meio desligado, cheio de estranhezas que eu nunca consegui decifrar. 

Mas é claro que eu deveria ter prestado mais atenção no seu olhar de saudade quando me olhou nos olhos exatamente como no dia em que nos conhecemos. Era o mesmo olhar tomado de incertezas e sentimentos que, honestamente, eu nunca consegui corresponder. Infelizmente, este último olhar, diferente do primeiro, transmitiu uma tristeza que - idiota eu - não percebi.

Talvez se seus olhos tivessem permanecidos fixos aos meus por mais alguns segundos antes de você ter saído do nosso cantinho lá de casa, nada disso estaria acontecendo. "Disso" trata-se de um sentimento tão estranho quanto as suas estranhezas. A questão é que eu não entendo de sentimentos (e você sabe muito bem disso) assim como não te compreendo.

Sua escala de cinza era tão infinita. Era impossível saber o que você queria, e quais eram seus sonhos ou os seus anseios. A minha escala de cinza era nada mais nada menos que apenas preto e branco. E de repente, quando você saiu da minha vida essa escala se duplicou... Triplicou... Finalmente tornando-se tão cinzenta quanto a sua. E todos os sentimentos enterrados simplesmente explodiram como um carnaval de sensações. Eu queria ter sentido isso antes, sabe? 

Queria que você conhecesse meu olhar de saudade, que visse que finalmente entendi o que é sentir. Queria que tivéssemos um final feliz como nos filmes idiotas de romance que você sempre convencia-me a ver. Queria que você fizesse parte do futuro que eu nunca planejei. Só queria, pela primeira vez, ser a guria que te faz feliz. Mas é tarde, não é? Aquela foi a sua decisão e eu só percebi o quanto você importa depois que te perdi. 

Maldito ditado popular. 

Me traz de volta.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Parabéns.




Aniversário é uma das coisas mais bonitas para serem comemoradas. Em controvérsia sou desnaturada demais para lembrar de qualquer um deles (até das pessoas mais importantes na minha vida). Só que não o seu. Por algum motivo era fácil demais saber o mês, o dia, e até, quem sabe, a hora que você nasceu. 

Anotei seu nome no dia do seu aniversário e na frente dele desenhei um coração. A data era prevista para dali meses, e ainda assim eu tinha certeza que estaríamos juntos até lá. Ou talvez eu tenha feito aquele rabisco justamente para me lembrar de que eu não deveria correr de ti, pelo menos até esse dia. 

Os meses passaram voando, e neles, muitas lágrimas derramadas e muitos clichês repetidos sucessivamente aconteceram. Nós já não éramos mais os mesmos. Eu já não era mais a mesma. Provavelmente meu sentimento por você também tivesse mudado.

Provavelmente. 

É só mais um cara na sua vida, eu repetia isso pra aquela coisa vermelha que bate dentro do meu peito.

Logo chegaria seu aniversário... Logo veria na minha agenda o seu nome seguido de um coração... Logo abalaria-me por não poder te dar feliz aniversário do jeito que eu queria.

Para minha surpresa, uma semana antes o alarme do meu celular tocou. Não era alarme para acordar, nem para tomar anticoncepcional, e nem era qualquer nota sobre as tarefas para amanhã. Era um lembrete seu, agendado há meses atrás para eu comprar seu presente de aniversário.

Eu quis chorar.

O dia chegou e eu não poderia deixar de te parabenizar. Fui o mais breve possível só pra te lembrar que: não, bonito, eu não te esqueci. E que, apesar de tudo, tudo que eu quero é te ver feliz. É claro que meu coração preferia te ter comigo... - Minto. Meu coração não vê outra possibilidade senão estar contigo. Ele (o coração) não consegue entender que você pode ser feliz sem mim. Mas é fato: sua felicidade nem esbarra no que eu chamo de minha vida. 

Respirei fundo.

No final do dia aquele dia era só mais um dia qualquer.

domingo, 22 de setembro de 2013

Teu cheiro.


Eu não sou muito boa com cheiros. Nem um pouco, na verdade. Essa coisa de cheiro bom e cheiro ruim... É tudo muito relativo. Primeiro que meu olfato sofre de algum distúrbio olfacular que não permite que eu sinta um terço do que as pessoas sentem normalmente. Não que eu tenha feito qualquer pesquisa sobre isso, até porque a palavra olfacular nem deve constar no dicionário. Apenas imagino que meu cérebro trabalhe da maneira que ele acha adequado. 

Dizem que sou sinestésica, por isso consigo sentir cheiros apenas pensando neles. O que deve ser mentira, levando em conta meu auto-diagnóstico que afirma um distúrbio olfacular. Minha mãe quem o diga. "Mãe, você está fazendo frango assado?", ela respondia logo "Não, filha, é abobrinha".

O ponto em que quero chegar é que: agora tudo cheira a ti. É como aquelas pessoas que vêem seus amados em todas as esquinas, só que um pouco diferente. Porque eu sinto seu cheiro, o melhor cheiro do universo, se quer saber.

Normalmente não preciso pensar em você para o seu cheiro aparecer. Talvez seja alguém que esbarrou em mim e deixou o ar com um pouco de ti, o que prefiro não acreditar, pois seu cheiro é seu, e fim. Não deve existir qualquer explicação plausível para tal fenômeno (ou seja lá o que isso for), já que te sinto neste exato momento e estou em uma sala fechada, livre de qualquer circulação de ar.

Seu cheiro virou remédio pra minha dor de cabeça.

Mas de repente... Transformou-se em saudade.

E mais de repente ainda, passou a consumir-me... Tanto, que por vezes preferi que seu cheiro desaparecesse. Prefiro senti-lo em ti. Quando sua nuca chega bem perto do meu nariz, meus olhos se fecham e todo o resto do mundo parece sumir.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Bolha de sabão


De repente o mundo real parece afastado. O olhar se fixa em algo qualquer e a visão aos poucos vai embaçando. Presa em uma bola de sabão. Exterior colorido, interior vazio. Uma fina película a separa da realidade e a faz voar. Mas qual o sentido de voar se sabe que antes de alcançar o céu irá estourar? Por que aceita voar por um tempo tão curto? É apenas uma fuga... Foi apenas mais uma tentativa de conseguir a paz do céu azul.

Ela não pode encostar em nada, um vento mais forte a destruiria. ‘Longe, longe da realidade, por favor’, ela implorava pra ficar.

A bolinha parecia dançar com o vento, brincar com a gravidade e zombar dos que não conseguiam tirar os pés do chão. ‘Mais sorte ainda tem os pássaros’ pensava enquanto invejava brandamente as aves que voavam acima dela.

No ar, com suas cores translúcidas e formato exato parecia tão perfeita, soberba, parecia debochar da preocupação humana diária. Mas ela nasceu assim, ela foi feita para embelezar, ser admirada, porém, ter vida curta.

Consegue imaginar uma bola de sabão toda sensível a toque ou sopro mais forte, com vida longa? Não seria nada fácil cuidar de algo tão delicado. Requer muita atenção, paciência, vigília... E em resumo: amor. Como amar eternamente uma bola de sabão? Como cuidar dela? Ela debocha dos defeitos com seu formato perfeito, ela voa e ainda se protege da dura realidade com apenas uma camada fina de água e sabão; ela afasta-se com uma brisa de quem a criou e a admira, e ela é sozinha.

É o que pensam quando a veem. Mas ela carrega dentro do invisível, as partículas de quem a deu vida, ela também vê o mundo depois da camadinha que a recobre. Ela quer a realidade, mas não pode ter, seria o fim de sua existência perfeita. Ela não escolhe para que lado correr, quem decide seu destino e velocidade é o vento, ela é só uma bolinha no ar, só mais uma que ao explodir irá desaparecer. Ela não inveja os pássaros por suas asas, mas por sua livre escolha de voar e pousar onde desejarem, Inveja-os por cantarem, pela expressão que transmitem no canto.

Ter frio, calor, sentir a grama úmida, a areia da praia, ouvir os sons reais, os sons além daquele estúdio fechado com péssima acústica que a cercava, sentir os gostos, os cheiros das comidas bonitas postas à mesa, receber a lambida de um cachorro ou o afago de um gato, assistir um filme antigo em branco e preto ou ao menos enxergar as cores definidas... A realidade pode ser tão cruel e tão encantadora ao mesmo tempo! Por que nasceu bola de sabão?  Por que encantadora, porém presa e ainda por algo tão facilmente destruído? Poderia ser qualquer outra bola. De gude para brincar com as crianças, de futebol balançando a rede nos jogos, poderia ser uma bolinha de vidro tomando o lugar do olho que falta no rosto do pirata, ou mesmo uma bolinha sem graça de gel embaixo de flores artificiais enfeitando e recepcionando pra sempre as visitas em uma sala. Será que quem a criou pensou nisso antes de separar ar, água e sabão do chão?

O menino que assoprou levemente o canudinho embebido em sabão e água nem imagina a intenção da bolinha sobrevoando sua cabeça. O vento tenta a afastar, mas ela insiste em ficar perto de seu criador. Enquanto ele admira sua bolinha transparente e colorida, sua obra, seu sopro, o tempo de vida da bola acaba. Ela explode em milhares de gotículas pelo ar, caindo sutil e vingativamente nos olhos do menino. Seus olhinhos ardem, mas ele não chora.

Escrito por: Kalline Sakurada

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Ame menos.


Teus olhos te denunciavam, garota. Era fácil demais te ler. Te lia nos mínimos detalhes, sem você precisar ter escrito uma palavra. Seu diário não dizia nada mais do que eu já sabia só de te olhar. E naquele dia, minha menina, eu vi a tristeza que você carregara durante o último mês que obriguei-te a não me ver. Você mordia seus lábios para calar teu choro. Um choro que queria a todo custo sair. Mas seu orgulho nunca deixara espaço pra demonstrar qualquer fraqueza perfeitamente aceitável, não é, menina?

Meu sumiço fora necessário.

Talvez assim, garota, você finalmente esquecesse que um dia amou-me. Talvez, pequena, deixar de me ver fosse a melhor coisa pra você, porque não era pra mim. Você sempre soube que eu gostava de ti. Mas você amava-me. Amava-me tanto que eu nunca conseguiria retribuir uma migalha desse sentimento. Meu sentimento não era suficiente pra você, eu sabia disso. Você, não. Você não sabia que seu sentimento era tão grande. Você não sabia que sofreria tanto só dos teus dedos deixarem de procurar pelos meus enquanto estes tentavam afugentar-se.

Eu soube que ainda me amava quando seus olhos imploraram-me por um amor que eu não sentia. Você soube que eu tive pena. E foi isso que te fez erguer a cabeça e virar para o lado oposto ao que eu estava. Você é forte, minha menina. Talvez você realmente seja a garota feita pra mim. Talvez eu me dê conta disso tarde demais. Talvez eu já saiba disso. Talvez... Talvez eu só deseje que você encontre alguém que realmente te ame como você me amou. E espero que você ame menos. Porque quem ama menos não passa noites sem dormir, nem acorda com os olhos inchados. 

Porque você merece amar menos de vez em quando, garota.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

A garota de volta então.


Passou despercebida pela maioria por ali. Seus passos eram tão rápidos que mal pude notar as lágrimas que caíam de seus olhos. No entanto, por algum motivo o tempo parou para eu vê-la em câmera lenta - como nos filmes quando mostram alguma beldade com os cabelos a voar - e apesar da sua cabeça baixa ocultar toda a tristeza que carregava em si, eu percebi.

Cogitei milhões de histórias com finais tristes, e cheguei a conclusão de que aquele não era seu final. Parecia mais com o precipício que todos nós tropeçamos num certo momento da vida. Portanto também não acreditava que seu final seria feliz - não acredito em finais felizes -, mas que aquele definitivamente ainda não era seu fim. Tinha muito o que viver. Era notável sua inexperiência, sua sensibilidade, e o medo que transbordava seu peito. Tinha medo de viver. De sofrer novamente. De amar. Amor... o que é isso afinal?

Também não descobri, garota. Eu quis gritar.

Seu jeito de andar entregava a menina cheia de sonhos destruídos. Devia ter procurado o príncipe encantado e nem sapo apareceu. Talvez ela fosse dessas meninas que vivem nos livros que adoram iludir as mentes mais frágeis. Talvez ela tenha decorado diálogos que não terminaram como o planejado. No entanto, quem sou eu para dizer o que aconteceu à ela naqueles dois ou cinco últimos minutos. Talvez ela estivesse chorando por dias a fio.

Tive vontade abraçá-la e dar conselhos com metáforas sem sentido, protegê-la daquele mundo que não era o dela, fazer papel do príncipe encantado, e até trancá-la numa torre para ninguém mais machucá-la. Só que não era justo, eu sabia. Deixei-a correr pra longe de mim. Amanhã ou depois, quem sabe, ela não esbarra em mim e descobre que eu sou o cara da vida dela...

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