quarta-feira, 4 de julho de 2012

O radialista sabe do amor



No rádio é assim: a gente sente que está olhando nos olhos do outro sem realmente estar olhando. E falando também, a gente fala com gente demais, individualmente, um por um, sem exclusão. Eu aprendi, guria, que a gente fala no ouvidinho de cada um a trilha sonora que aperta, sabe? Ah, aquela coisa que faz o olho fechar e tocar lá no fundo. Porque é diferente tu ires até a música escolhida como acontece hoje em dia. No rádio não, no rádio a música é que te encontra e te pega de supetão adivinhando teus pavores. Aquela velha de outras histórias que ardem quando o som começa a tocar, aquela que hoje te faz entender que o amor é tu de olhos fechados sentindo a música mais brega escondido no próprio quarto ou aquela canção de tristeza e até alegria enquanto o trânsito tira horas do teu dia e quando vê o cara ao lado entrou no mesmo choro ou riso do teu só pela janela. O rádio une, entende? Aqui a gente toca canções de amor. Há anos eu costumo iniciar assim: “Vamos lá tocar as histórias de amor”. E são histórias por demais! A gente toca no outro sem saber, mas no fundo sabe porque a gente é tocado também. As ondas do rádio vão longe, guria, longe por esses pampas todos. Esses dias toquei uma antiga, daquelas que faz o cara mais durão se desmanchar, e adivinha? Logo recebi uma dúzia de e-mail dizendo que não podia, tocar uma daquelas às 14h da tarde não podia, era tortura demais pra um coração só. Mal sabem eles quantos corações há na mesma sintonia, na mesma música sofrida. Aqui a gente toca canções de amor, porque o rádio vem de anos atrás, mas o amor vem desde sempre. Aqui a gente gosta de pegar pela mão e dizer “vai, dança com a guria que te encanta, canta pra mulher que te enlouquece, liga para o homem que te esqueceu”. Ah, a gente faz um bando de desgraça nos peitos alheios com essas músicas todas. É disso que gosto no rádio, guria: a gente não vê, mas sabe tudinho. Tem coisa mais igual nesse mundo do que ouvir a música tocar despretensiosamente no rádio no meio do dia, fechar o olho e pensar: “bah, essa não!”. Assim mesmo, com esse sotaque, com essa vontade e com esse olho fechado. Peito ferido, amando, odiando e querendo, é tudo igual, guria. No rádio ninguém se vê, mas todo mundo se entende… São mil histórias de amor.

Camila Costa

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