Eu tinha tempo de sobra. Sempre tive tempo de sobra. Principalmente nesses tempos onde meia hora de atraso é normal. Pra ser exata eu estava duas horas e trinta e dois minutos adiantada. O que era tempo suficiente pra conhecer um pequeno pedaço da "cidade cinza".
Resolvi ir pelo metrô. Peguei a linha 1, que desviaria levemente do caminho original, mas essa era a intenção: atrasar um pouco o que estava adiantado demais.
O engraçado é que nessas cidades grandes você é só mais um qualquer, as pessoas nem te olham no olho, e não fazem questão de ficar observando que tipo de roupa você está vestindo.
Eu, como qualquer outra pessoa do interior, fiquei fascinada com todos os detalhes, e se alguém parasse para me reparar não teria dúvidas que eu não passara nem um dia naquela cidade grande. Mas na realidade, mesmo que eu já estivesse por cinco ou dez meses, eu continuaria com essa cara de curiosidade por qualquer coisa boba que eu visse.
Não foi muito fácil minha primeira experiência com o metrô. A começar pelo fato de que fui arrastada para um vagão qualquer junto com a multidão que praticamente corria enfurecidamente. Pra ser sincera nem tinha reparado nas placas de "Deixe a esquerda livre para circulação" nas escadas rolantes, até que alguém me puxou para a direita me deixando o recado. E fiquei feliz em saber que as pessoas respeitavam isso - ou pelo menos a maioria.
Dentro do vagão - é vagão mesmo que se fala? - fiquei de pé. E a culpa era toda minha por sair em horário de "pico". As pessoas entravam e saiam cheias de pressa. Algumas dormiam, e eu me perguntava como elas sabiam quando tinham que acordar para não perderem o ponto. Todos pareciam um pouco estressados ou cansados.
Um adolescente de aparentemente 17 anos chorava todo encolhido tentando não chamar atenção. Um velho rabugento reclamava para a sua mulher de alguma coisa sobre a refeição da noite anterior. A menina que lia um livro, cujo título não me recordo, derrubou uma lágrima que caiu meio tímida em seu colo. A mulher com flores nas mãos sorriu depois de ler um cartão que estava encaixado no buquê. O homem sentado deu seu lugar à uma velhinha, que lhe agradeceu depois de um sorriso. E a criança que chorava ganhou um doce de uma outra que observava preocupada a chorosa.
Afinal, eram todas pessoas que tinham suas próprias vidas, seus problemas e seus amores. Talvez estivessem mesmo cansadas e estressadas, mas elas me contavam suas belíssimas histórias naquele curto espaço de tempo em que esperavam seu ponto chegar.
Quando saí do metrô, aquela cidade já não era mais tão cinza assim. Eu já conseguia ver um pouco da felicidade que eu estava acostumada a ver no interior. E já quase me sentia parte de lá.
adorei! Mt legal, e mostra sensibilidade da sua parte. E ah, tbm sempre tive curiosidade de saber como as pessoas que dormem no metro acordam na hora certa! Rs
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