Sua cabeça pesava por tanto sonhar. Imersa em um mundo onde seu coração era o dono da verdade, perdia sempre a hora, o ponto em que devia descer, a matéria da aula que assistia, o segredo que lhe era contado no ouvido, a oportunidade. Seu universo idealizado era tão incrível que o mesmo supria todas suas necessidades, consolava-a a cada desgosto, enchia-a de esperança a cada lágrima que perigasse cair, fazendo com que ela não precisasse viver o que o mundo ao seu redor lhe oferecia. Pouco. Pra quem se fez em sonhos, não há realidade que realize.
Olhando pra dentro de si, via seus olhos como estrelas e sua boca a cuspir margaridas. Mal sabia como era por fora, não precisava.
Cresceu e, aos poucos, foi tirada de seu mundo e jogada na rua, em meios a outros sonhos despedaçados. Não sabia como viver, mas viveu. Mesmo que no automático. Uma sessão de choro por noite, por motivos variados: não saber lidar, não saber amar, não saber reagir, disfarçar, roubar, enganar, sorrir...sonhar. Não sabia mais fazer nem o que passou anos se especializando.
Até que um dia, exausta do universo onde era leiga de tudo, desistiu dele. Já era a quarta vez no mês que seu chefe a chamava pra discutir seus erros. Ela não havia nascido pra aquele mundo. Subiu ao terraço do prédio em que trabalhava e caminhou lentamente até o muro. Ali, à beira do abismo, resolveu olhar pra cima. Há quanto tempo Laura não fazia aquilo? Costume de quem não tem mais o que fazer. O céu é mesmo pra poucos. É pros que respiram. Pros que param, pausam, desistem de vez em quando. O céu é pros que desistem. Ela era uma desistente. Quando sonhava e viajava entre as estrelas (as mesmas que estavam acesas no céu aquela noite), há muitos anos atrás, não sabia, mas estava fugindo e desistindo do que chamamos de "real". Tanto faz. Ela só queria aquela sensação de novo. Afinal, o que a fazia feliz era não viver.
Adeus, realidade. [...] Boa noite, estrelas! Voltei. Serei sua pra sempre.
E um clarão (provavelmente efeito da aproximação de tantos corpos celestes) invadiu sua alma, seu coração. Sua felicidade só era real no mundo em que imaginava.
Alice, como assim, seus textos são muito incríveis! Enquanto eu leio, começo a imaginar coisas, ilustrar as palavras na minha mente. E a conclusão, o final, é lindo!
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