sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Hoje uma pessoa me fez feliz.


Uma pessoa. Há bilhões de almas formidáveis em todas as partes do mundo nesse exato momento, mas somente uma em especial foi capaz de me arrancar um sorriso sincero. Dessa vez não foi o meu antigo o amor, nem sequer a minha mãe. Não foi a minha melhor amiga, tampouco o ganhador da loteria me doando o prêmio. Hoje quem me fez feliz foi um mero desconhecido. Sem nome, sem endereço, sem telefone. Ou melhor, com tudo isso, mas ainda assim era um avulso no meio da multidão. Tanta gente andando apressada sem olhar pro lado, tanta gente correndo de sabe-se lá o quê, tanta gente tampando os ouvidos pra não escutar os gritos sangrentos vindos do lado de fora. Até que na esquina da Rua 25 com a 26, lá estava ele. Ele, jovem, bem vestido, sem pressa alguma e carregando um sorriso de dar inveja a qualquer par de olhos. Ele que, no meio do horário de pico, da gritaria, da multidão, do choro da criança, da gargalhada da tia-avó de alguém, parou pra prestar atenção em mim. Estranho isso, não? Essa coisa de um estranho mudar o seu dia com um simples gesto, um comentário sem compromisso algum, um bom humor de contagiar a quem passasse por perto. Hoje eu fui feliz pelo simples fato de que fui notada. E ele não fazia o tipo príncipe-encatado-no-cavalo-branco, mas elogiou a minha camisa do Bob Marley. Perguntou se eu gostava de reggae e riu do meu jeito atrapalhado de reclamar de tudo. Não se passaram sequer cinco minutos de conversa, até que ele soltou uma gargalhada e disse: “você é complicada de um jeito engraçado, isso te deixa diferente das outras”. Por Deus! Alguém – sem apresentar qualquer sinal de embriaguês ou de uso de drogas – me achou diferente das outras. Não que isso soasse como um quase-pedido-de-casamento, mas fui capaz de ver estrelinhas brilhando e o termômetro da minha auto-estima ir as alturas. Eu pude rir sem me preocupar com o fato do meu sorriso ser torto, porque certamente ele já havia reparado nisso e continuou me fazendo sorrir mesmo assim. Indiretamente, ele gostou do meu sorriso. E eu fui demasiadamente feliz por conseguir prender a atenção de um cara há quase meia hora sem utilizar recursos vulgares. O cara me chamou de complicada e, pela primeira vez na vida, eu concordei sem me sentir ofendida por isso. Sou mesmo complicada, erronia, estúpida e ignorante, mas, poxa, eu tenho uma camisa do Bob Marley que eu sei que você adorou. E não tenta esconder, porque eu te vi rir daquele meu comentário sobre o tênis do garoto que acabou de passar do nosso lado. Você não perguntou o meu nome nem pegou o número do meu celular, mas eu não me senti um lixo por conta disso. Afinal, eu nunca vi alguém me desvendar tão fácil em uma só conversa - passageira, informal, sem muitas chances de evoluir pra algo maior, tipo um quase-segundo-encontro – portanto, você já garantiu inúmeros pontinhos ao seu favor na minha listinha mental. Ele estava no horário de almoço e o ônibus havia chegado. Tudo bem, hora do minúsculo conto de fadas ir por água abaixo. Vai ver a gente se esbarra qualquer dia na mesma esquina e no mesmo horário, vai saber. Sei que ele nunca vai ler esse texto, por isso eu fecho os olhos e espero que o recado seja entregue por pensamentos bons: obrigada por me fazer deitar a cabeça no travesseiro com um gosto de felicidade no canto da boca.

Escrito por Capitule.

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