terça-feira, 19 de maio de 2015

Você é meu cigarro.


Te descobri num dia comum em um lugar onde eu não costumava frequentar. Junto contigo tinham outros milhares expostos, alguns mais atraentes e alguns nem tanto. Te escolhi por algum critério que não me recordo agora. Talvez pelo design diferente... não sei. Não foi nenhum amigo meu que te apresentou, apesar de alguns deles te conhecerem bem, a iniciativa foi minha em querer experimentar. 

Na embalagem vinha escrito logo de cara que você era prejudicial. E eu já sabia disso antes mesmo de te conhecer. É o que a mídia nos faz acreditar - são todos iguais. Mas são erroneamente iguais: é evidente que cada um tem suas particularidades, senão não haveria preferência.

Era óbvio que eu não era a primeira usuária nem seria a última. Tive curiosidade de ir atrás de cada um que te fumou para saber qual era a sensação, o que tu lhes trouxe de bom e que partes da vida deles tu arruinou. Só que eu não fazia ideia de como obter esse tipo de informação. A princípio tudo o que eu fazia era observar. Li o rótulo tantas vezes que cheguei a decorar cada informação que a embalagem me pudesse oferecer. Eu já não tinha certeza do que eu queria.

O que custava tentar? Nem o vício, nem o estrago viriam tão rápidos assim. Talvez eu nem sentisse a diferença. Por isso experimentei. A primeira tragada foi um pouco asfixiante, a sensação era de que aquilo não deveria estar no meu corpo. Entretanto eu estava tão animada com a ideia de poder te conhecer melhor que me vi lutando para fumar o cigarro inteiro.

Logo, a sensação de te tragar passou a ser tranquilizadora. Acabei por decidir que valia a pena estar contigo independente dos estragos que você faria num futuro próximo ou não. Porque eu me sentia satisfeita. Saciada. Relaxada. Eu podia te fumar o dia inteiro. Talvez isso me matasse mais rápido, "mas e daí?" era só o que eu conseguia pensar.

Mas, agora, quando eu realmente paro pra analisar quão mal você pode me fazer, te escondo porque é mais fácil quando não te tenho em mãos. O problema é que não tem como esconder pra sempre, uma hora você aparece (especialmente  quando estou procurando coisas que não são você). Eu tento ignorar, mas é tão ruim te ver e não te tragar. É mais forte que eu. Aí acontecem as recaídas. Arrisco dizer até que estou viciada. E que droga de vício.

Quando me perguntam porque eu fumo... quando me perguntam porque eu fumo você, respondo "porque gosto". E essa é a resposta mais verdadeira de qualquer uma que eu pudesse pensar. Dizem que viciados nunca se curam em cem por cento. Por isso, mesmo que eu pare de te fumar, ainda vai existir uma parte de mim que implorará para que você apareça de repente e volte me estragar.

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