domingo, 17 de julho de 2011

Só nosso.

- E até foi incrível, porque aconteceu tanta coisa enquanto você esteve fora.
- Jura? Que tipo de coisa?
- Por exemplo, eu descobri que o tempo não nos serve e entendi que pode ser divertido contar sua saudade, apesar de agoniante. Eu posso não ter dia nem noite, eu posso não ter rosto nem nome. Não precisei me regular, fiquei num período sujo e que não necessitava ser sereno, pois você não estava e não valeria a pena estar em paz sem sua presença. Eu fiquei maquiavélica e não me importei com o inverno que fazia. Não fechava as janelas, dormia com as portas destrancadas para que me roubassem e me levassem até você. Eu descobri tantos enredos de loucura e no final não me acabei, ou porque sabia que você voltaria, ou porque quem perde o medo nunca é visto.
- Eu descobri algo muito maior.
- Hm, o que descobriu?
- Tenho umas raízes sólidas e fortes, uma linha imaginária que sai do meu tornozelo até o seu. Eu demorei para descobrir, sabe? Mas sempre que estava na janela vinham muitos passarinhos coloridos e, cada vez que um abria o bico, eu e minha inconsciência desenhávamos seu corpo e seus cabelos, seus sorrisos e seu anular esquerdo. Descobri que você me tornou mágico e límpido de uma forma incondicional. Descobri que sua alma ronda meu peito enquanto estou sem fôlego e que depois disso toda a minha condição humana de inconstância e ruindade evapora. Tem uma coisa aqui dentro que você colocou e essa coisa desfez meu egoísmo, me tornou sóbrio e cego ao mesmo tempo.
- É isso o que chamam de amor?
- Não, isso é basicamente nosso, minha menina. Ninguém mais conhece. Isso é oposto ao estado transcendental, uma nova civilização em nós, festa, apocalipse.

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