domingo, 9 de outubro de 2011

Always the second choice.



Lá estava eu, como todas as outras noites, deitado na minha cama olhando pro pôster dos Beatles no teto do quarto. Cada dobra do lençol conta uma história diferente, tem uma memória diferente. São memórias indo e vindo de um passado tão distante mas que ainda machucava e rasgava como se tudo tivesse acontecido há poucos dias. Todos os nossos fantasmas me assombrando; nossos lugares, nossos amigos, nossas manias… Hoje tudo tão não-nosso.
O celular toca, vejo na tela o nome do meu melhor amigo. Não consigo entender como ele ainda não se cansou de mim, como ele ainda continua insistindo. Até eu já cansei de mim. Demoro pra atender pois sabia o motivo da ligação e queria evitar aborrecimentos. Mas no sétimo toque acabo atendendo:
- E aí, cara. Tamo aqui no barzinho já, aquele perto da faculdade, mas se tu vier pela zona sul tem que fazer o retorno antes da padaria do…- Não vou, Fernando.- Vai negar umas cervejas com os amigos? Tem muita guria aqui.- Não, valeu.Escuto uns resmungos e suspiros sem paciência. No fundo, o barulho do bar que parece estar animado.
- Cara, eu não te reconheço mais. Ninguém te reconhece mais.
Eu já sabia disso, mas ouvir a verdade sempre dói mais. Desliguei o telefone sem ao menos dizer “tchau” e coloquei meus fones de ouvido. Pra ajudar, a primeira música do aleatório foi aquela que eu tanto tento evitar, aquela que foi a trilha sonora de todo o tempo que ficamos juntos, aquela que, simplesmente, não tem mais sentido algum.
O sono vai chegando mas tu não sai dos meus pensamentos. E o meu maior desejo é não sonhar com você, não de novo. É horrível, pois te tenho tão perto de mim e de repente, quando acordo, ganho aquele balde de água fria e aquela visão da minha cama vazia. 
Pego meu celular e abro as mensagens. As tuas ainda estão lá. “01/07/2010 - 12h34: Estou chegando aí, amor. Amo você.” Eu lembro desse dia. Lembro de como tu chegou aqui em casa, lembro do teu vestido, do teu sorriso… Ah, esse teu sorriso. Sinto falta de como ele era tão meu, de como você era tão minha. Lembro da pizza que estava contigo e da nossa guerra de comida. Lembro de como assistimos filme até o fim da tarde que foi quando tu recebeu uma ligação - que até hoje não sei de quem foi - te chamando pra algum lugar. E tu? Tu simplesmente foi. Mas, amor, tu deveria ter ficado.

Meus pensamentos são interrompidos por outra ligação. Bianca. Uma paixão antiga que nos fez ficar amigos. Melhores amigos.  Ao contrário da outra ligação, atendo essa nos primeiros toques:
- Oi, Bia.- Vem pro bar, por favor. Ficar aí sozinho não vai ajudar em nada e você sabe.- Até você?- Vem. Tô fazendo isso pro teu bem.Reviro os olhos e suspiro. Sabia que se não aceitasse e fosse logo pra esse bendito bar, não iriam parar de encher meu saco e atrapalhar minha noite.
- Tá. 
Desligo o telefone com toda a raiva do mundo. Isso que ela faz comigo não é justo e já estava me irritando. Levantei da cama, peguei uma roupa qualquer e caminhei até a garagem. Notei que os olhares dos meus pais quando passei pela sala foram de surpresa. Até entendo eles, não saio de casa de noite há quanto tempo? 2 meses? […] Fui pro carro e liguei o rádio, uma música animada estava tocando, cantei o caminho inteiro e consegui me animar um pouco. Chego no bar em 15 minutos e a Bia estava me esperando na frente. Dei um abraço apertado nela e escuto um “Obrigada” no meu ouvido. Fomos até a mesa e fiquei olhando as pessoas do bar; tinhas umas gurias muito lindas, mas nenhuma realmente me atraiu.
Sentei com o pessoal e ficamos conversando e rindo por um bom tempo, sempre acompanhados com umas boas heineken’s. Vou me animando com o passar das horas e por um momento, eu juro, eu esqueci você. Era como se nada tivesse acontecido, como se teu rosto fosse só mais um qualquer no meio de uma multidão, como se o som da tua risada fosse só mais um barulho qualquer. Mas todas as vezes que isso acontece tu tem que fazer alguma coisa pra voltar pra minha cabeça. Você não quer ser esquecida nem por um segundo, você quer atenção. E foi aí que olhando pra entrada do bar, eu te vejo. Te vejo, pela primeira vez, sem a nossa aliança e automaticamente olhei pra minha mão e vi que ainda uso a minha (eu poderia ser mais idiota?). Você fica na entrada um pouco olhando pra trás e rindo. Ah, esse teu sorriso… Ele ainda me faz sorrir. Mas aí vejo ele chegando do teu lado. Ele mesmo. Aquele cara que tu preferiu e disse ser melhor do que eu, que te leva pros mesmos lugares que eu te levei, que ouve de ti as mesmas coisas que tu falava pra mim, que vai ser usado assim como você me usou. 
Te acompanho desviando das mesas e das pessoas pelo bar com meus os olhos e por um instante, teu olhar cruzou com o meu. Você não acenou, nem falou nada. Mas seu sorriso desapareceu. Será que é porque você sente minha falta? Será que é porque dói em ti assim como dói em mim? […] Tentei te ignorar, voltei pra conversa com meus amigos e me enchi com mais um pouco de cerveja. O tempo passou rápido e eu não estava mais incomodado com a tua presença no mesmo ambiente que eu. Efeito do álcool? Não importa. 
Mas esse efeito durou pouco tempo e meu olhar vai até você mais uma vez. Vejo você rindo e se divertindo. Sinto que todos os meus amigos estavam me olhando e procurando o que estava me fazendo ficar vidrado. Decido falar com você e me levanto da mesa no maior impulso. O Fernando notou, segurou logo o meu braço e falou que eu não iria lá nem fodendo. Eu vi sua cara de preocupação mas eu… Eu não poderia deixar essa oportunidade passar (mas oportunidade de que, menino? Ela já se foi). Meu subconsciente também não ajudava. Dei a desculpa de que iria ao banheiro e ainda com a cerveja na mão, fui até ao encontro dela. Depois que o Fernando viu que eu não estava no caminho do banheiro, gritou meu nome mas eu fingi que não escutei. Vi que o namoradinho dela não estava na mesa e então, puxei-a pelo braço e levei pra fora do bar.
- Mas o que você está fazendo, garoto?
- Vamos ter a conversa que nunca tivemos.
“Vomitei” todas as minhas mágoas, todo o meu sofrimento em apenas 5 minutos. Ela estava muito assustada e quando abriu a boca pra começar a falar, o namoradinho dela chega e atrapalha tudo. Começou a gritar com nós dois. Principalmente com ela. Quem ele pensa que é pra falar assim com a minha garota? (ela não é mais sua garota). Essa frase ecoava na minha mente. Mas eu não podia deixar ele trata-la desse jeito. E então dei um soco em sua cara. O que me surpreendeu bastante, porque eu definitivamente não faço o tipo bad guy. Efeito do álcool? Não, efeito dela. Só depois notei que isso não era algo bom. 
Corremos rindo pra um pouco longe da entrada do bar e de toda aquela confusão. Quando realmente ficamos à sós, me perdi em seu sorriso e… A beijei.Tenho que admitir que foi o nosso melhor beijo; repleto de saudades e de um amor tão grande, mas tão grande, porém não suficiente. Tentei leva-a pro meu carro, pra sairmos dali e irmos pra um dos nossos lugares. No começo ela não quis e reclamou um pouco, mas depois de um pouco de insistência da minha parte - uma insistência bem idiota porque não tinha como aquilo ali acabar bem - consegui levar ela pra longe dali. A levei pra praia e ficamos sentados na areia, abraçados - já tinha esquecido como nosso abraço se encaixa -, conversando sobre coisas aleatórias. A deixei tagarelar sobre a vida dela - como ela gosta de fazer - e ela me fala que comprou um cachorro. Automaticamente lembramos da vez em que estávamos no shopping e paramos na pet shop. Ela tinha se apaixonado por um filhote e falou que nós iríamos ter um desses quando casássemos; e eu reclamando com ela falando que nunca iria ter um destruidor desses em casa. Rimos. Gargalhamos. E por um segundo, eu me senti como eu me sentia há um ano atrás. Mas foi aí que ela começou a falar sobre os nossos erros. Sobre a traição. Começou a colocar o motivo de um erro dela em cima de um erro meu. Eu não podia mais ouvir aquilo e as lágrimas já estavam surgindo. É como se tudo estivesse caindo sobre mim… De novo. Então, a deixei lá na praia e voltei pro bar. No caminho, lutei com todas as minhas forças contra minhas lágrimas e fiquei repetindo pra mim mesmo que iria passar. Quando cheguei lá, vi que tinha mais pessoas do que antes, estava lotado. Voltei pra mesa e todos perguntaram onde eu estava, não falei nada mas a Bianca e o Fernando notaram tudo só pelo meu olhar. Tentei conversar e rir feito antes, mas não consegui.Você tinha me esgotado. 
Me despedi de todos e voltei pra casa. Quando cheguei, recebi duas mensagens; uma da Bia falando que tudo ia ficar bem e outra sua, pedindo desculpas, falando que se importa comigo e quer me ver de novo. A confusão que eu já estava não bastava… Você tinha que vir e confundir tudo mais um pouco, bagunçar uma coisa ou outra, deixar do teu jeito. Arrumo tudo, deito na cama e decido responder tua mensagem:
- “É uma pena nós termos nos separado”. - “Você foi embora hoje.”- “Você foi embora sempre.”
- “Eu deveria ter ficado.”
É, amor, tu deveria ter ficado.

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