sexta-feira, 15 de junho de 2012

O sangue que corre é vida.



O batom vermelho denunciava a última tentativa de suicídio.

por que batom?

por que vermelho?

por que suicídio?

A jovem moça, nua, jogada na banheira, fitava o teto com olhos cegos. A pulsação fraca. O sangue escorrendo pelos lábios de preenchimento labial. Silicone nos seios, invisíveis, agora cheios de sangue.

desilusão amorosa. mas o que é o amor, senão uma ilusão?

No jornal do dia seguinte, a manchete. “Jovem perua tenta se matar”. Ou menos suicídio e mais batom.

não era suicídio, era sangue.

não era vermelho, era sangue.

não era batom, era sangue.

Vermelho é a cor com a qual costumamos pintar os corações que desenhamos na contracapa de nossos cadernos de escola. Por que vermelho? Cor macabra. Cor de sangue, e imagino que ninguém goste de sangue. Sangue vem com tentativas de suicídio, por menores que sejam.

tentativas de suicídio. Cada ferimento, cada passo para se auto-destruir, uma tentativa de suicídio.

ou talvez duas tentativas de suicídio.

“Jovem perua apenas tentou se matar. Cortar os pulsos não foi o suficiente, ou seja lá mais que merda ela fez. Só sei que a família quis internar”

não, não usariam uma linguagem tão informal nos tablóides.

“O namorado trocou ela por outra. Achei ela idiota de tentar se matar. Eu iria atrás da piranha e usaria essa minha loucura toda pra matar ela”

não

era

suicídio.

era só o sangue que saía do nariz preenchendo os lábios. Mais nojento do que batom-vermelho, talvez.

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