O batom vermelho denunciava a última tentativa de suicídio.
por que batom?
por que vermelho?
por que suicídio?
A jovem moça, nua, jogada na banheira, fitava o teto com olhos cegos. A pulsação fraca. O sangue escorrendo pelos lábios de preenchimento labial. Silicone nos seios, invisíveis, agora cheios de sangue.
desilusão amorosa. mas o que é o amor, senão uma ilusão?
No jornal do dia seguinte, a manchete. “Jovem perua tenta se matar”. Ou menos suicídio e mais batom.
não era suicídio, era sangue.
não era vermelho, era sangue.
não era batom, era sangue.
Vermelho é a cor com a qual costumamos pintar os corações que desenhamos na contracapa de nossos cadernos de escola. Por que vermelho? Cor macabra. Cor de sangue, e imagino que ninguém goste de sangue. Sangue vem com tentativas de suicídio, por menores que sejam.
tentativas de suicídio. Cada ferimento, cada passo para se auto-destruir, uma tentativa de suicídio.
ou talvez duas tentativas de suicídio.
“Jovem perua apenas tentou se matar. Cortar os pulsos não foi o suficiente, ou seja lá mais que merda ela fez. Só sei que a família quis internar”
não, não usariam uma linguagem tão informal nos tablóides.
“O namorado trocou ela por outra. Achei ela idiota de tentar se matar. Eu iria atrás da piranha e usaria essa minha loucura toda pra matar ela”
não
era
suicídio.
era só o sangue que saía do nariz preenchendo os lábios. Mais nojento do que batom-vermelho, talvez.
Via Tentáculos de Veludo.
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