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sábado, 18 de maio de 2013

A morte é uma piada.


Morrer é ridículo. Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente? Não sei de onde tiraram esta ideia: morrer. A troco? Você passou mais de dez anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente. De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinquente que gostou do seu tênis. Qual é? Morrer é um chiste. Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu. Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã. Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser levado a sério? Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não companha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa? Não se faz. Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que esta não tem graça.

Escrito por Martha Medeiros.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Resenha #2: A CABANA



Título original: The Shack.
Autor (a): William Paul Young.
Gênero: Ficção/Religião.
Editora: Sextante FICÇÃO.
Número total de páginas: 272.
Ano de publicação: 2007.



Sinopse: A filha mais nova de Mackenzie Allen Philip foi raptada durante as férias em famí­lia e há evidências de que ela foi brutalmente assassinada e abandonada numa cabana. Quatro anos mais tarde, Mack recebe uma nota suspeita, aparentemente vinda de Deus, convidando-o para voltar àquela cabana para passar o fim de semana. Ignorando alertas de que poderia ser uma cilada, ele segue numa tarde de inverno e volta a cenário de seu pior pesadelo. O que encontra lá muda sua vida para sempre. Num mundo em que religião parece tornar-se irrelevante, "A Cabana" invoca a pergunta: "Se Deus é tão poderoso e tão cheio de amor, por que não faz nada para amenizar a dor e o sofrimento do mundo?" As respostas encontradas por Mack surpreenderão você e, provavelmente, o transformarão tanto quanto ele.

Opinião: “A Cabana” é um livro desses que prendem o leitor. Já no prefácio eu sabia que a história seria fantástica, e eu nem sabia do que se tratava direito. A forma de William P. Young de escrever é de fácil compreensão, e uma coisa que o livro tem de diferente da maioria, é que no começo de cada capítulo tem uma frase para o leitor refletir. O livro me deixou chocada com os primeiros acontecimentos, mas me fez refletir como ser humano diante da forma diferente e encantadora que Papai tem de falar com o Mack. Uma coisa ruim, é que nos últimos capítulos demorei um pouco mais pra terminar, porque quando chega à parte do reencontro que Mack tem com seu pai, o autor relata muitas cenas difíceis de imaginar, o que me deixou meio confusa, mas a leitura foi feita em cerca de duas semanas.

Personagem(s) Favorito(s): Sarayu / Espírito Santo.

Nota: 4. (de 0-5)

Citações Favoritas: “Submissão não tem a ver com autoridade e não é obediência. Tem a ver com      relacionamento de amor e respeito.”
“Todas as vezes que você perdoa, o universo muda; cada vez que estende a mão e toca um coração ou uma vida, o mundo se transforma, a cada gentileza e serviço, visto ou não visto, meus propósitos são realizados e nada jamais será igual.”


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Quem me estuprou.


Hoje fui estuprada. Subiram em cima de mim, invadiram meu corpo e eu não pude fazer nada. Você não vai querer saber dos detalhes. Eu não quero lembrar dos detalhes. Ele parecia estar gostando e foi até o fim. Não precisou apontar uma arma para a minha cabeça. Eu já estava apavorada. Não precisou me esfolar ou esmurrar. A violência me atingiu por dentro.

A calcinha, em frangalhos no chão, só não ficou mais arrasada do que eu. Depois que ele terminou e foi embora, fiquei alguns minutos com a cara no chão, tentando me lembrar do rosto do agressor. Eu não sei o seu nome, não sei o que faz da vida. Mas eu sei quem me estuprou.

Quem me estuprou foi a pessoa que disse que quando uma mulher diz “não”, na verdade, está querendo dizer “sim”. Não porque esse sujeito, só por dizer isso, seja um estuprador em potencial. Não. Mas porque é esse tipo de pessoa que valida e reforça a ação do cara que abusou do meu corpo.

Então, quem me estuprou também foi o cara que assoviou para mim na rua. Aquele, que mesmo não me conhecendo, achava que tinha o direito de invadir o meu espaço. Quem me estuprou foi quem achou que, se eu estava sozinha na rua, na balada ou em qualquer outro lugar do planeta, é porque eu estava à disposição.

Quem me estuprou foram aqueles que passaram a acreditar que toda mulher, no fundo no fundo, alimenta a fantasia de ser estuprada. Foram aqueles que aprenderam com os filmes pornô que o sexo dá mais tesão quando é degradante pra mulher. Quando ela está claramente sofrendo e sendo humilhada. Quando é feito à força.

Quem me estuprou foi o cara que disse que alguns estupradores merecem um abraço. Foi o comediante que fez graça com mulheres sendo assediadas no transporte público. Foi todo mundo que riu dessa piada. Foi todo mundo que defendeu o direito de fazer piadas sobre esse momento de puro horror.

Quem me estuprou foram as propagandas que disseram que é ok uma mulher ser agarrada e ter a roupa arrancada sem o consentimento dela. Quem me estuprou foram as propagandas que repetidas vezes insinuaram que mulher é mercadoria. Que pode ser consumida e abusada. Que existe somente para satisfazer o apetite sexual do público-alvo.

Quem me estuprou foi o padre que disse que, se isso aconteceu, foi porque eu consenti. Foi também o padre que disse que um estuprador até pode ser perdoado, mas uma mulher que aborta não. Quem me estuprou foi a igreja, que durante séculos se empenhou a me reduzir, a me submeter, a me calar.

Quem me estuprou foram aquelas pessoas que, mesmo depois do ocorrido, insistem que a culpada sou eu. Que eu pedi para isso acontecer. Que eu estava querendo. Que minha roupa era curta demais. Que eu bebi demais. Que eu sou uma vadia.

Ainda sou capaz de sentir o cheiro nauseante do meu agressor. Está por toda parte. E então eu percebo que, mesmo se esse cara não existisse, mesmo se ele nunca tivesse cruzado o meu caminho, eu não estaria a salvo de ter sido destroçada e de ter tido a vagina arrebentada. Porque não foi só aquele cara que me estuprou. Foi uma cultura inteira.

Esse texto é fictício. Eu não fui estuprada hoje. Mas certamente outras mulheres foram.


Quer saber quem escreveu esse texto?

terça-feira, 29 de maio de 2012

29 de Maio de 2012, 15h


Querido Bê,

Estou muito triste.

Na realidade, nem queria que você lesse isso, porque não tem uma gota sequer a ver contigo, só preciso desabafar, sem precisar realmente ser ouvida. Então se caso preferir, pode parar por aqui.

É, eu te conheço bem demais pra saber que você leria as próximas linhas. Me sinto um pouco culpada por isso, não quero te trazer mais preocupações. Mas se eu guardar essa carta na gaveta, vou sentir como se tivesse jogado meus problemas debaixo de qualquer tapete. E no momento, não me vem mais ninguém à quem recorrer senão você.

Hoje minha mãe esteve aqui. E você sabe, ela está com aquela coisa chamada Alzheimer. Ah, que doença terrível. Dizem que as pessoas que vivem em volta dela sofrem muito mais do que a própria pessoa, já que ela tende a esquecer qualquer ocorrido recente. Mas sabe, é muito pior do que dizem.

Tudo bem, estive sempre meio acostumada a ser confundida com alguém, acontece. E minha mãe sempre foi dessas, de confundir. Só que hoje... Ah, hoje foi horrível. Ela apareceu aqui desesperada procurando pela irmã dela (que segundo ela, era eu), disse que o rapaz que a acompanhava queria que ela dormisse na mesma casa que ele. O rapaz, era meu irmão. E então ela disse "Eu deixei o Lelo lá" e ele respondeu sorridente "Mãe, eu sou o Lelo", ela insistiu irritada "Eu sei que você é o Lelo, mas eu deixei meu Lelo lá na sua casa, você acha que estou caduca? Eu sei que você é o Lelo, mas tem o Lelo meu filho também"... 

Ele não demonstrou, mas fico imaginando como deve ter doído nele. Imagine, sua própria mãe te dizendo que você não é filho dela, e que o suposto verdadeiro existia e estaria em outro lugar. O Lelo deve ter ficado muito chateado. E o pior, ela disse preocupada, depois que o Lelo saiu, "Ele não pode matar o Lelo não, né? Eu posso deixar o Lelo dormir na casa dele, certo? Porque eu nem conheço esse rapaz direito, vai saber o que ele pode fazer".

Ah, Bê, não sei mais o que fazer. Não ser reconhecido pela própria mãe deve ser horrível, deve doer no peito, sabe.

Espero que encontrem uma cura para essa doença. Não quero mais ouvi-la dizendo que irá se matar se a obrigarmos a tomar qualquer remédio.

Obrigada por me ouvir Bê, e não se preocupe, ficarei melhor,

Eu te amo com todas as letras do alfabeto,

Tua, Alie.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Enfraquecemos nosso próprio espírito.


Foi assim naquela época. Incapazes de atribuir suas desgraças ao acaso, incapazes de aceitar sua irrelevância em meio ao grande sistema, as pessoas começaram a procurar por monstros infiltrados em seu meio.
Quanto mais a mídia cultivava esses medos, mais as pessoas perdiam a capacidade de confiar umas nas outras. Para cada nova desgraça que surgia, a mídia produzia uma explicação - que sempre tinha um rosto e um nome. As pessoas começaram a desconfiar de seus vizinhos mais próximos. Fosse em termos de indivíduos, comunidades ou de nações, elas viviam à procura de sinais de más intenções nas outras - e onde quer que procurassem, encontravam, pois isso é o que sempre ocorre em tais casos.
Esse era o grande desafio que as pessoas enfrentavam naquela época. O desafio de confiar umas nas outras. E elas não foram capazes de vencer esse desafio. É a isso que me refiro quando digo que elas depararam com um enfraquecimento do próprio espírito.

Gênesis - Bernard Beckett.

sábado, 19 de novembro de 2011

Mude um pouco.



Sabe qual o grande problema do século? Se preocupar com as coisinhas mínimas, fúteis e vãs. Se estressar e perder os preciosos cabelos com cada bobeira. Se a roupa manchou de tinta, aproveita e pinta o resto; se escureceu, dorme; se está triste, um sorriso cura; se cair, levante e ria da queda; se chora, enxuga; se está quente, toma banho de mangueira; se está atrasado, correr não vai mudar muita coisa; se chove, rega as rosas; se está calmo demais, canta; se esfria, abraça. Tudo se encaixa, se resolve, não precisa gritar, se irritar e nem se desesperar. A vida se ajeita com calma e um pouco de otimismo no bolso.


Layla G.

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