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domingo, 26 de maio de 2013

Longe é o lugar onde podemos viver de verdade


 Eu tô te esperando aqui, em frente ao computador, do ladinho da cama onde quero passar noites infinitas com você. Mentira. Nessa cama, só quero passar uma noite contigo. Depois vamos pro mundo, pro além. Conheceremos cada cantinho do nosso país primeiro, perguntaremos a cada sem-teto deitado na calçada se ele precisa de um pão ou de um abraço. Levaremos todos aqueles cachorros de olhos grandes conosco por onde formos. A cada cidade, mais cinco. Quando eles forem muitos, podemos arrumar uma fazenda gigante e uma pessoa com um coração maior que o nosso pra cuidar deles lá. Depois iremos pra Europa, pro Oriente e pra Marte também. Passaremos por hotéis com piso de mármore, onde dançarei toda coberta de espuma naquelas banheiras gigantes e pularemos juntos sobre o colchão de molas. Também ficaremos em albergues sujos cheio de gente criativa e divertida. Iremos à festas onde as pessoas só se divertem com drogas e nos sentiremos as duas pessoas mais incríveis do mundo por ficarmos tão loucos quanto eles só de olharmos um nos olhos do outro. Porque seremos química. Seremos amor em êxtase. Dançaremos tanto! 
 Assistiremos filmes românticos pra eu fazer cara de nojo fingindo que não quero entrar num daqueles roteiros com você, e filmes que nos farão passar a noite discutindo questões filosóficas. Sempre discordaremos, e sempre acabaremos unindo nossos corpos nus no final, esquecendo de toda a discussão. Você me dará flores já murchas que roubou em um jardim bonito enquanto andava pela cidade. Eu sempre tentarei ressuscitá-las e você sempre rirá da minha ilusão ignorante. Trocaremos versos de Cecília Meireles antes do boa noite. 
 Viveremos aqui, ali, em todo lugar. Juntos, mesmo que distantes. Tô te esperando, e mesmo que não venha, já estamos conectados enquanto eu sonho com você e você sonha comigo. Mesmo que não saibamos quem somos. Estamos juntos, agora. 

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Raped.



     Ela tentou fugir! Gritou, mas parecia ninguém ouvir. A rua, quase tão escura quanto aquela noite, não tinha uma alma viva sequer. Desesperou-se por estar sozinha. Quando imaginaria que alguém observava seus passos brincalhões que passavam todos os dias pelas mesmas calçadas? 
     Debateu-se ao máximo com a pouca força que tinha, porém aqueles braços eram grandes demais para seu pequeno corpo. Chorou, mesmo não querendo deixar transparecer o quanto sentia-se frágil. Na sua última tentativa de fuga, quando mordeu o pulso do homem que a machucava, sentiu a palma furiosa da mão dele em seu rosto. Viu que seria impossível livrar-se dali. Então cedeu. Seu corpo parou de lutar, enquanto seus olhos ainda imploravam misericórdia. Ela também sabia que aquilo provavelmente não funcionaria, mas naquela hora qualquer tentativa parecia valer a pena.
      Estava tão ocupada pensando em como sair daqueles braços que mal percebera quando pararam em um casebre aparentemente abandonado. Estava com muito medo. Não fazia ideia de como chegara àquele lugar.
     O homem, sem nenhum cuidado, jogara-a num canto de um dos minúsculos quartos fétidos dali. Os olhos aterrorizados dela percorreram pelo cômodo com desgosto, pairando o olhar na face que mais temeria dali em diante.
     Ele aproximou-se com um lenço que amarrou forte nos pulsos e na boca da menina. Despiu-a logo depois de tirar sua calça. Ela não entendia muito sobre estupro, mas aquela parecia a hora exata para o significado da tal palavra. Fechou os olhos. Não queria lembrar daquela cena, já tinha imagens suficientes que não esqueceria tão breve. Tentou não senti-lo rasgá-la sem piedade. Tentou esquecer que estava ali.
     Violentada, nua e com falta de ar, ainda vivia. Não tivera forças para sair dali. Mal sentia-se viva. Queria ter sido esquecida, para esquecer todas as dores. 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Starting to live.



Meu corpo imergia na lama que queria me afundar num provável abismo de depressão. Era tentador parar de resistir e deixar que me levasse de uma vez. Assim acabaria com a dor de braços que nunca carregaram mais que dois quilos, ou o cansaço que se acumulara pela primeira vez depois de anos sem qualquer tipo de esforço físico válido. Apesar de poucos saberem... Sempre fui fraca. No entanto isso não se trata apenas de uma das milhares de competições para líder de torcida que eu participei, porque isso é real. Porque na única vez que resolvo sair em busca de uma aventura, cá estou. Fracassada. Sozinha. Sem a menor chance de ser encontrada, a menos que meus pais sintam - por algum milagre - que a filha fugitiva veio para este fim de mundo.
A verdade é que eu já estive em situações parecidíssimas, mas sem lama. Claro, eram situações banais, portanto que na época pareciam casos de vida ou morte. Não poderia me sentir mais sozinha do que estou. Provavelmente esta é a única vez que desejo pedir socorro da forma mais humilhante necessária. Mais humilhante do que ter conseguido afundar nesta lama. 
Um dia inteiro presa neste inferno. Meu vestido não poderia estar mais grudado na pele como está, e não sei se fico mais feliz pela parte que se encontra debaixo da lama, ou a que já está secando, deixando-me sem movimentos. Pra ser sincera, estes parecem meus últimos minutos de vida. A lama já alcança meus ombros, fazendo-me lembrar das milhares de aulas que seriam úteis agora e que fiz questão de ignorar.
Então era isso. Era assim que eu morreria. Sem final feliz. Sem príncipe encantado. Sozinha.
Tão só que talvez, apenas talvez, tenha entendido pela primeira vez a magia do destino. Porque pela primeira vez eu percebera que, sim, viver é meu maior desejo.
Mas agora é tarde.
Contemplo cada detalhe da natureza que desprezei por tanto tempo. Revivo os melhores momentos da minha vida, almejando por mais, mas sabendo que é o fim.
E paro de lutar.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Meu quase suicídio.



Ele gritava comigo, inundado de remorso, sem piedade nenhuma. E desta vez não era por causa de outro homem. Era porque na noite anterior eu tentara me suicidar. Foi uma tentativa ridiculamente falha, como podem ver. Talvez tivesse sido melhor arrumar um método mais rápido, sem dor, e que não tivesse chances de uma súbita tentativa de ressussitamento. A culpa não era dele. Ou pelo menos era nisso que eu gostaria de acreditar.
Reparei que o soro ainda corria pelas minhas veias, recuperando um corpo quase perdido. Tive vontade de chorar quando ele disse que se afastaria de mim caso eu cometesse outra tentativa de suicídio. Logo que viu uma lágrima caindo dos meus olhos, começou a gritar ainda mais, dizendo que não era para eu me fazer de coitada, afinal, eu tentara me matar para apenas chamar sua atenção. O que não era verdade.
Alguns minutos depois chegaram médicos avisados por alguém sobre o barulho que meu marido fazia num local inapropriado. Então, finalmente se acalmou. Mas antes de me deixar falar qualquer coisa, acrescentou mais calmo:
"Eu li a sua carta de despedida. Desculpe-me se fui tão ausente na sua vida, e se meu trabalho atrapalhou nosso relacionamento. Eu queria te surpreender todos os dias com uma flor qualquer, chegar mais cedo em casa, e te fazer cafuné antes de dormir. Sei que perdi muitas noites contigo para relaxar com meus amigos. Sei que deveria ter te dado o filho que tanto queria. Mas eu precisava de tempo. Fui egoísta, sim. No entanto, querida, mais do que nunca, não tenho dúvidas do meu amor por você. No fundo sempre soube que você é a mulher da minha vida. Você acha mesmo que todos os motivos que você listou eram suficientes pra acabar com o amor que sentimos um pelo outro? Porque, meu amor, pra mim não são. Se estou contigo, é porque te amo. E te amo pelo que você é. Não adianta querer mudar. Você é linda da sua maneira. E te ver estatelada naquele chão gelado foi como se tivessem arrancado minhas pernas sem dó. Se você morresse, querida, como eu poderia viver? Você pelo menos pensou nisso?"
E então ele chorou... Nós choramos. E eu ainda tinha tantas perguntas para lhe fazer; entretanto, ele me deu novamente um motivo para viver. Era a mesma promessa de sempre, mas eu acreditei.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Ensanguentada.


Sedutoramente ensanguentada.
Estava caída de lado. Seu braço esquerdo sustentava seu corpo, assim como as costelas e o quadril  também da lateral esquerda. A perna direita, levemente jogada por cima da outra, dava um ar mais sedutor ainda. E seu outro braço aparentava ter sido deixado propositalmente em sua cintura, fazendo-a um tanto insinuante.

Seria uma bela cena de se admirar se não fosse toda a gritaria por ali. Polícia, ambulância e vizinhos. Todos alarmados devido ao suposto assassinato. Todos ameaçados pelo cheiro de morte que por ali pairava. Era realmente uma cena admirável. Que continha a presença de mães preocupadas tapando os olhos de seus filhos curiosos, e vizinhos que continuavam saindo de todas as direções com seus pijamas inusitados.

O assassino, que nada sabia da ruiva sedutora, fugiu sem deixar explicações. Talvez ele tenha visto nela beleza demais para pertencer a qualquer outra pessoa. Nós, leitores e admiradores de um belo romance, imaginamos que haja uma belíssima história de amor  por trás de toda essa confusão. Que por alguma razão este homem tivesse que matá-la.

Histórias e mais histórias vieram a tona. Explicações cientificamente possíveis e também as sobrenaturais. Todos procuravam por um motivo. No entanto ninguém realmente se importava com o que tão bela moça pensara minutos antes de sua morte, ou o que estaria ela sentindo quando viu seu assassino. Ninguém se perguntara se ela queria ter morrido ou se sua vida já estava por um fio, mesmo antes do assassinato. Julgavam sem tentar compreender, porque, afinal, era apenas mais um acontecimento entre milhões de outros.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O que eu aprendi.



Nunca fui bom com palavras.
Por isso nem sei como começar.

Segundo meu histórico escolar eu era um aluno desprovido de concentração. Motivo pelo qual nunca entendera qualquer coisa que levasse tempo demais para ser explicado. "Como o amor?", alguém me perguntou um dia. Sim. Mas não, eu nunca quis saber o significado de tal palavra que de uma hora pra outra poderia virar verbo. Já era difícil lembrar que quando a professora desejava me aferir não me feriria em parte alguma. Imagina tentar entender o que filósofo nenhum conseguiu explicar.
Você deve estar pensando o que acredito que esteja pensando, por isso já lhe venho com a resposta: Até alien já deve ter sentido o amor, mas ninguém, acredito, fora capaz de explicar tal sentimento. 
Nem filósofo.
No entanto, você não pode simplesmente acreditar em mim. 
Afinal, não sou dos mais confiáveis. Sou distraível, se é que essa palavra existe. Sou um poço de palavras inexistentes, ou existentes com significados completamente diferentes do original. Sou filtro do desnecessário, das muitas informações, das histórias sem fim... e desse tal amor. 
Mas, como sempre existe um mas, você, amigo, deve saber que ela tentou me ensinar as coisas da vida. Mas eu nunca aprendi. Não sei a diferença de decapitar ou decepar, não lembro quem venceu a Primeira Guerra, e nem como conseguiram isso. Não sei por que motivos não posso usar apenas um "porque" em lugar de todos os outros "por quês"... 
Tudo que aprendi foi amar.
Não, meu caro, ainda não sei como explicá-lo. Mas já posso sentí-lo.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Filme: A Pele que Habito.



La Piel Que Habito conta a história Robert Ledgard (Antonio Banderas), um cirurgião plástico que após a morte de sua mulher vem desenvolvendo uma pele extremamente resistente com o objetivo de recriar sua amada. Doze anos depois ele consegue cultivar uma pele contra todas as agressões em seu laboratório, utilizando os avanços científicos como o da transgênese, que é um campo proibido. Para isso ele precisa de um cúmplice e de uma cobaia. Marília é a mulher que cuidou dele desde que nasceu. Quanto a cobaia...
Só assistindo pra saber.


O filme foi baseado no livro Tarantula do escritor francês Tierry Jonquet. Foi dirigido por Pedro Almodóvar, também diretor de Abraços Partidos e Volver. Na minha opinião, A Pele que Habito foi o melhor dos três. Segundo Almodóvar, o filme é dos gêneros drama, e suspense, sem gritos ou sustos. 


A história, como característica dos filmes de Almodóvar, retrata a traição, a morte, a identidade sexual e a solidão. Mas foge um pouco do que o diretor costumava utilizar, pois este possui um toque de suspense sombrio, se distanciando do universo tradicional do diretor, sem o toque de humor ou lágrimas. 


É um filme recomendadíssimo, que irá te surpreender. E pra deixar com mais vontade de ver, um trailer pra vocês:


terça-feira, 12 de junho de 2012

Feliz próximo dia dos namorados.


Querida,
Engraçado seria encontrar-te perdida na rua. Aposto que seria irrelevante o fato de nunca ter me visto, por isso bateria-me por rir de ti. Eu não me importaria, porque, sabe, você sempre fora assim. Desde quando era apenas a garota dos meus sonhos. Nunca se importou com regras ou etiquetas se visse qualquer injustiça aonde quer que fosse. Apesar de não ser muito de falar, sabia muito bem a hora certa para colocar qualquer grandalhão no chão. Apetitava-te pequenos detalhes, no entanto poucas eram as vezes que demonstrava qualquer interesse, mesmo com Tim Burton ou Strokes. E ainda assim, eu sempre soube das suas maiores paixões e das suas manias como aquela de tentar tirar algum som de qualquer coisa que lhe colocassem nas mãos.
Antes que pense errado de mim, você não me conhece mesmo, mas não fique com medo. Não sou nenhum psicopata ou estuprador. Sou poeta e admirador. Sei de ti, pois sou eu seu inventor. Veja só, até prosa vira poesia quando se trata de ti, meu amor. Não quero ser atirado, até porque não gosta disso. Mas tu tens que saber que sou teu, e tu é minha. Sempre fomos.
Não se preocupe. Só entregarei-lhe esta carta no próximo dia dos namorados. Quem sabe até lá já não tenha te conhecido, e, quem sabe, tu tenhas me amado. Pois sei que será tão difícil quanto parece, já que te fiz assim, quase impossível para mim.
Do quase seu.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Corri.



22h37min
Tu embarcaria às 23h, o que significava 23min para chegar no aeroporto e me despedir. De carro demoraria 10min se não houvesse trânsito, caso contrário: 30min. Mas por motivos maiores, talvez não conseguisse um carro à tempo. Muito arriscado. À pé levaria 40min. Se eu corresse, chegaria em 20min. Era a única chance. 

22h 39min
A última chance.

Corri. Corri desesperadamente antes que fosse tarde demais. Se pelo menos não tivesse gastado tanto tempo questionando se tu era, deveras, importante o suficiente para eu te ver novamente, teria tempo de sobra para uma última declaração. "A mais belíssima de todas" - pensei, enquanto tudo à minha volta parecia correr tão rápido quanto eu. 

22h48min
Já estava na metade do caminho. Se eu tivesse sorte ganharia um bônus de 2min para falar tudo que estava entalado.
A rua estava um tanto escura, e devido à noite fria meus membros começavam a congelar. Você sabe, sempre fui muito sensível ao calor ou ao frio extremo. A neve só fazia questão de piorar, e começara a sentir meus olhos lacrimejarem por conta de tanto vento batendo com mais força que o usual.

Mas essa história vocês já conhecem. Os mocinhos acabam sempre se encontrando no final. Eu sorri, e chorei. Sorri por ter essa chance, e chorei por ela ser a última.

22h58min
Finalmente chegara no aeroporto. Minhas pernas quase não respondiam aos meus comandos, e minhas mãos já não davam sinal de vida.
Ergui os olhos afim de procurar meu amado, mas aquele lugar parecia muito maior e mais lotado. Era o fim. Nunca o encontraria ali.
Ainda assim, corri até a agência que o embarcaria, e disseram estarem prestes a decolar. Pensei em questionar o adiantamento, mas minhas pernas fizeram o contrário: correram o mais rápido que podiam até a plataforma de embarque (ou seja lá como é o nome daquilo). Por sorte o local era aberto, e por mais sorte ainda, ele estava lá! Numa fila à caminho da entrada do avião.
"Gatinho!" - Eu gritei.
À princípio ele ficou meio atônito, procurando por quem gritara. E finalmente nossos olhos se encontraram.
"Eu te amo!" - Gritei, aos prantos.
Ele sorriu. Virou para a entrada. Entrou.
"Adeus, gatinho." - Pensei.

23h01min
"Nova mensagem" - Meu celular alertava.
"Vem comigo, amor. O próximo voo sai às 23h30min."

terça-feira, 29 de maio de 2012

29 de Maio de 2012, 15h


Querido Bê,

Estou muito triste.

Na realidade, nem queria que você lesse isso, porque não tem uma gota sequer a ver contigo, só preciso desabafar, sem precisar realmente ser ouvida. Então se caso preferir, pode parar por aqui.

É, eu te conheço bem demais pra saber que você leria as próximas linhas. Me sinto um pouco culpada por isso, não quero te trazer mais preocupações. Mas se eu guardar essa carta na gaveta, vou sentir como se tivesse jogado meus problemas debaixo de qualquer tapete. E no momento, não me vem mais ninguém à quem recorrer senão você.

Hoje minha mãe esteve aqui. E você sabe, ela está com aquela coisa chamada Alzheimer. Ah, que doença terrível. Dizem que as pessoas que vivem em volta dela sofrem muito mais do que a própria pessoa, já que ela tende a esquecer qualquer ocorrido recente. Mas sabe, é muito pior do que dizem.

Tudo bem, estive sempre meio acostumada a ser confundida com alguém, acontece. E minha mãe sempre foi dessas, de confundir. Só que hoje... Ah, hoje foi horrível. Ela apareceu aqui desesperada procurando pela irmã dela (que segundo ela, era eu), disse que o rapaz que a acompanhava queria que ela dormisse na mesma casa que ele. O rapaz, era meu irmão. E então ela disse "Eu deixei o Lelo lá" e ele respondeu sorridente "Mãe, eu sou o Lelo", ela insistiu irritada "Eu sei que você é o Lelo, mas eu deixei meu Lelo lá na sua casa, você acha que estou caduca? Eu sei que você é o Lelo, mas tem o Lelo meu filho também"... 

Ele não demonstrou, mas fico imaginando como deve ter doído nele. Imagine, sua própria mãe te dizendo que você não é filho dela, e que o suposto verdadeiro existia e estaria em outro lugar. O Lelo deve ter ficado muito chateado. E o pior, ela disse preocupada, depois que o Lelo saiu, "Ele não pode matar o Lelo não, né? Eu posso deixar o Lelo dormir na casa dele, certo? Porque eu nem conheço esse rapaz direito, vai saber o que ele pode fazer".

Ah, Bê, não sei mais o que fazer. Não ser reconhecido pela própria mãe deve ser horrível, deve doer no peito, sabe.

Espero que encontrem uma cura para essa doença. Não quero mais ouvi-la dizendo que irá se matar se a obrigarmos a tomar qualquer remédio.

Obrigada por me ouvir Bê, e não se preocupe, ficarei melhor,

Eu te amo com todas as letras do alfabeto,

Tua, Alie.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

23 de Maio de 2012, 12h 12m


Querido Bê,

Olho pela janela todo minuto, e nada de você. Estou com saudades e você não aparece. Você disse que estaria aqui ao meio dia em ponto. Já estou ficando preocupada. Só porque eu tinha feito sua comida preferida junto com sua sobremesa preferida (até loquei um filme de ação invés de um romance), e você não aparece.

Tudo estava indo tão bem, fazia tanto tempo que eu não discutia com você. Mas acho injusto eu ter que esperar pelo meu amor por tanto tempo assim. Eu sei, eu sei, são só alguns minutos de atraso. Só que ficar sem você dói tanto. Dói aqui dentro do peito, sabe? Mentira. Dói o corpo todo, e parece que vou explodir se ficar sem te ver.

Desculpe por ser tão grudenta, vou tentar melhorar.

Ps: Você está chegando com seu sorriso lindo agora.

Não invente desculpas esfarrapadas,

Eu te amo mais do que filme de romance.

Alie.

sábado, 19 de maio de 2012

19 de Maio de 2012, 07h 46m


Querido Bê,

Você saiu daqui tão bravo que não consegui nem me concentrar na aula depois. Não estou dizendo que deveria ter ficado, porque você sabe como sou toda esquentadinha e tudo ficaria muito pior, mas você podia ter pelo menos me dado um beijo na testa como forma de "amanhã tudo ficará bem".

Hoje minha mãe comprou chocolate em barra, que me lembrou a primeira vez que você me obrigou a comer os cookies que você tinha feito. Estavam horríveis, mas você disse que tinha feito com carinho.

Ando meio preocupada com a gente. Não que isso seja o nosso fim, só parece que está tudo muito morno.

Espero que amanhã estejamos melhor.

Com todo o carinho do mundo,

Sua, só sua, Alie.

Ps: Me faz cookies amanhã?

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Sou menino.


Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico.

Nelson Rodrigues.

domingo, 13 de maio de 2012

Que amor é esse?


"Eu a amo de verdade" - Ele repetia incansáveis vezes enquanto olhava para uma foto dos dois.
Mas é claro, isso não era nenhuma novidade. Não importava quantas garotas lindas passassem na sua frente, ele persistia repetindo o quanto ele a amava - aquela garota que mexeu com seu coração durante o que ele chamava de vida.
E depois de um tempo desejando silenciosamente algumas das garotas que por ele cruzavam, prosseguiu: "Sou homem, tenho meus defeitos. Às vezes não penso ao agir. Mas você sabe, é ela que eu amo, porque nós vivemos tantas coisas lindas juntos."
Aquelas frases soavam tão iguais e previamente organizadas que agora já não pareciam mais verdadeiras. Pareciam ensaiadas, como um discurso de arrependimento, ou provavelmente uma cobrança em cima de si mesmo afim de ser mais leal. Pois apesar de amá-la incondicionalmente, ele errou... e pelo visto, continuava errando.
Era assim que ele seguia a vida. Mentindo para os outros, fazendo-os acreditarem que ele era um cara diferente. Mentindo para a namorada, fazendo-a acreditar que não havia mais ninguém senão ela. Mentindo para si mesmo, acreditando que nada daquilo era errado demais para ser considerado traição.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Love is surreal.


O relógio marcava meia noite. De um sábado qualquer, em um beco qualquer. Ele parara ao lado de um daqueles lixões que guardavam a comida estragada do restaurante. Tudo ali fedia a vômito, e nem assim percebeu quão repugnante estava aquele lugar. Era o amor. Que fazia o lixo virar ouro, e a sujeira, arco-íris. Até o céu sem estrelas se tornara brilhante. Quem diria que dentro daquele coração frio floresceria tal sentimento. Sentimento este que tomava conta de cada nervo existente nele. Tempos atrás, compararia o amor com poluição ou até mesmo apocalipse. E agora estava assim, todo sorridente sem motivos concretos. Ele não tinha certeza se aquilo o fazia bem, mas do que isso importava quando via o mundo tão surreal como deveria ser?

sexta-feira, 16 de março de 2012

Cuidado com meu coração.


É, você não sabe cuidar de nada mesmo. Veja meu coração, todo despedaçado. É assim que você trata tudo que lhe é entregue nas mãos?
Pois então confesse que as rosas que lhe dei já não tem mais aquela vida. Só não diga que a culpa foi minha, pois quando lhes entreguei já não mais me pertenciam. Comigo elas estavam intactas, em perfeito estado. Pareciam recém colhidas, originárias de um jardineiro profissional, quando na realidade eu cuidava de cada botão nos últimos meses, para que lhe fossem entregues vivas, radiantes, recheadas de amor. Porque era disso que eu as alimentava... De amor. No entanto tudo que você conseguiu foi abandoná-las no parapeito da janela, como se elas pudessem viver de sol. Quem dera se você lembrasse que elas também tem sede. Sede de carinho, de cuidado, atenção. Sede do que você não conseguiu oferecer nem pro mais puro coração.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Nossa música.


- Eu te segui pelos lugares mais escuros, entre escombros e ruínas. Sem me importar com as assombrações que eu encontraria ou pesadelos que eu teria.
- Por que você me seguiu? Eu nunca te vi nos borrões deixados para trás.
- Me pergunta "por que" depois de todas aquelas frases cantadas no meu ouvido?
- Cantadas?
- Sim, elas soavam como melodias no meu coração.
- Melodia era a sua voz para o meu ouvido até o dia em que você saiu do ritmo. Entrou em um compasso diferente, outra dança, outro par.
- Talvez a culpa fosse da sua música que não falava mais de amor.
- Você poderia ter trocado o disco, tocado a sua música. Eu entraria na sua dança, ou pelo menos tentaria.
- Eu tentei, mas sua obsessão pelo sucesso do momento desvaneceu qualquer som que eu pudesse emitir.
- Talvez eu tenha mesmo sufocado a sua tentativa de emitir qualquer som.
- E por que você deixou que esse abismo aparecesse entre nós?
- A culpa foi só minha? Você poderia ter gritado mais alto. O abismo apareceu porque deslizamos para lados diferentes.
- Esqueceu da parte em que você sufoca minha tentativa de emitir qualquer som?
- E se eu estiver me referindo a uma apenas, e as outras?
- Talvez minha voz não tenha alcançado o tom do seu violão.
- Se eu mudar meu ritmo você canta comigo de novo?
- Se eu cantar contigo de novo você promete ouvir meus murmúrios mais discretos?
- Prometo tentar, mas caso eu não ouça, você grita dessa vez?
- Você já arranhou meu disco a primeira vez. Minha música já está desgastada, não sei se aguentaria gritar novamente.
- Se eu disser que foi pela sua falta que eu mudei de tom... É difícil lutar sozinho, se mostre mais. Você mesma disse que anda entre as sombras, pelos escombros. Eu tentei de novo, você não se arriscou com um sim, me dando sua indecisão novamente.
- Sou assim, quando o álbum acaba, aperto o repetir e esqueço de ir para o próximo. Por que não damos um replay na nossa história?

Alethéia Skowronski e Thais Katsumi.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Eu sonhei contigo.


Se fosse te contar meu sonho, passaria horas descrevendo quão quente foi seu abraço. Provavelmente eu não saberia descrever a sensação de te olhar nos olhos e ser correspondida. Mas lembraria que teus fios do cabelo estavam mais finos do que o normal, e alguns deles caiam delicadamente sobre seus olhos, agora esverdeados por conta de todas aquelas lágrimas desavisadas. Não esqueceria de como era estranho sua boca parecer mais sedutora quando umedecida. E suas mãos mais sexy por causa de todas aquelas veias saltadas, que começavam do peito da sua mão e terminavam no final do antebraço, onde sumiam, se misturando com a cor da sua pele. Ah, você sabe como eu sempre gostei de veias saltadas. Das suas, em especial. Também gostava do seu jeito estranho de dizer que sentiu minha falta, sem dizer necessariamente essas palavras. Era um sonho bom. Mas não quero me lembrar dos seus olhos me pedindo perdão, ou que você chorou! Chorou, pela primeira vez eu te via chorando. Mas não! Não quero lembrar! Então por favor, não me questione quando disser que sonhei contigo. Apenas sonhei, e foi um sonho bom.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Aquele dia.


Meus amigos, minha família, estavam todos ali. E eu não fazia ideia do porquê aquilo tudo parecia tão especial, sendo que não era meu aniversário, nem dia das crianças, natal ou ano novo. Era apenas mais uma data. E mesmo assim, sorri para todos, cumprimentei os que estavam mais próximos, e quando pensei em perguntar o que estava havendo... Eu te vejo. Em um lugar aparentemente impossível de estar. Era tão alto que mal consegui te reconhecer à primeira vista. Mas você olhava para mim, e você sabe, eu sinto seus olhares até quando nossos olhos não se cruzam. Você estava em cima de uma espécie de "palco" pendurado, se é que me entende. Você sabe, algo tipo um pêndulo. Eu fitei cada um à minha volta, eles também te observavam. Portanto, diferente de mim, todos sorriam como se me incentivassem a seguir em frente, e ir até seus braços, seu colo. Claro, eu fui. Não sei como, mas quando me dei conta já estava ao seu lado, sentindo seu cheiro, suas boas energias e todo aquele ar de mistério que você costumava carregar consigo. Tudo que eu conseguia fazer era orar loucamente pedindo que aquele momento não acabasse. Queria conseguir me lembrar das suas palavras naquela hora, mas só sei que foram bonitas, acolhedoras.
- Por que está aqui? - perguntei, desejando que seus olhos azuis-esverdeados me olhassem toda manhã.

- Hoje é um dia especial...
E antes que você pudesse terminar a frase, o tal palco com formato de pêndulo se partiu. Lembro de olhar para o palco, que reparei ser azul, aterrorizada em busca de um lugar fixo para não cair em queda livre, mas era tarde demais. Mas diferente de mim, sua face era serena, o que me preocupou. Só que aquilo não importava aquela hora, só consegui pensar em te abraçar, e foi isso que eu fiz. Em um impulso completamente fora do comum, fechei os olhos e tentei segurar em uma das cordas arrebentadas.

Estávamos vivos. De onde aquela força vinha? Não tinha ideia. Mas aquilo nos salvou. Quando abri os olhos, já não estávamos mais lá. Tudo que pude ver foi um lugar harmonioso com pétalas de rosas por todos os cantos, até que você, com a mesma tranquilidade de um minuto atrás, me perguntou:
- Quer namorar comigo?

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Pútrida noite.


E então eu pensei que estava farta de sofrer por todos aqueles babacas que entraram na minha vida. E que seria muito mais fácil se eu sentisse um pouco menos, e fosse um pouco mais como essas meninas fúteis de hoje em dia. Por isso eu saí. Me desapeguei do travesseiro que enxugou minhas lágrimas naqueles últimos... meses. Me arrumei. A meia arrastão era só aperitivo para depois da meia noite. A maquiagem, feita especialmente para chamar a atenção dos que só precisavam de diversão. O espartilho, para mostrar o que eu nunca mostrei. E a mini-saia, só pra provocar. Eu estava pronta. Pronta para esquecer todos os outros problemas, as dores, os amores. Pela primeira vez na vida, tudo parecia estar ao meu favor. Os homens caiam aos meus pés! Era uma sensação incrível. Eu era desejada. Mesmo que por um minuto. Eu me sentia desejada. E quer saber? Eu pude escolher com qual ficar. E fiquei com muitos. Era muito melhor do que eu imaginei. Não me importar com o mundo, com amores, com quantos cães foram mortos naquele minuto, ou quantas mães tiveram coragem de abortar, ou até em quantos políticos estavam mergulhando nas suas falcatruas intermináveis. Era só eu. Nada como ser mais uma garota fútil... Futilidade. Era isso então que faziam tais garotas tão felizes?
Porque... Essa foi a felicidade mais passageira que já tive. A mais fétida e frívola também. Que afinal, não valia nem o esmalte pintado para a ocasião.

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